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Estudo Nacional de Saúde: Metade dos jovens adultos enfrenta problemas de saúde mental

Estudo nacional de saúde: metade dos jovens adultos enfrenta problemas de saúde mental

8 mins. leitura

Índice

  1. 1. Sintomas de Saúde Mental
  2. 2. Retrato por Género
  3. 3. Mapa Geracional
  4. 4. Outros Indicadores
  5. 5. Conclusões

Stress elevado atinge metade da população

O stress continua a ser uma realidade presente na vida dos portugueses. Segundo o Estudo Nacional de Saúde 2025 da Marktest/Medicare, 50% da população entre os 18 e os 64 anos reportou níveis elevados de stress nos últimos seis meses, um valor que se mantém estável face à edição anterior.

A distribuição por género e idade revela padrões importantes:

As mulheres enfrentam maior pressão: 55% reportam stress elevado, comparando com 44% dos homens. Esta diferença de 11 pontos percentuais reflete a acumulação de responsabilidades profissionais, familiares e domésticas que ainda recai predominantemente sobre as mulheres portuguesas.

A faixa dos 45-54 anos regista o maior aumento: O stress neste grupo etário subiu 10 pontos percentuais face à edição anterior, atingindo valores acima da média nacional. É a geração que acumula responsabilidades no auge da carreira profissional, com filhos ainda dependentes e, frequentemente, pais idosos a necessitar de apoio.

Sinais positivos nos extremos etários: Os grupos mais jovens (18-34 anos) e os mais velhos (55-64 anos) registaram descidas no stress, menos 7 e menos 9 pontos percentuais, respetivamente. Esta melhoria sugere alguma capacidade de adaptação ou mudança de circunstâncias nestes segmentos.

Entre quem toma medicação regular para doenças crónicas, o stress elevado dispara para 65,6%, evidenciando como a saúde física e mental se influenciam mutuamente.

gráfico a ilustrar o nível de stress dos portugueses nos últimos 6 meses

Um terço apresenta sintomas de saúde mental

Nos últimos 12 meses, 34,5% dos portugueses experienciaram sintomas relacionados com saúde mental, incluindo ansiedade, burnout, ataques de pânico ou depressão. Representa uma descida de cerca de 5 pontos percentuais face à edição anterior do estudo (39,5%), embora os números continuem elevados.

gráfico a ilustrar os sintomas do foro mental dos últimos 12 meses

Os jovens lideram os indicadores

A prevalência de sintomas é especialmente marcada nas gerações mais novas:

  • 49,8% dos jovens entre 18-24 anos apresentaram sintomas (descida de 13,8 p.p. face à edição anterior)
  • 41,7% dos adultos entre 25-34 anos também reportaram problemas (descida de 9 p.p.)

Apesar da descida, estes grupos continuam significativamente acima da média nacional, sugerindo que a pressão sobre os mais jovens, entre instabilidade laboral, dificuldades no acesso à habitação e incerteza quanto ao futuro, se traduz em maior vulnerabilidade mental.


Género e classe social marcam diferenças

As desigualdades são evidentes:

  • 41,7% das mulheres vs. 29% dos homens apresentam sintomas
  • As classes sociais C2/D reportam maior prevalência, confirmando que a vulnerabilidade económica amplifica o risco de problemas de saúde mental

Entre quem toma medicação crónica, a prevalência de sintomas sobe para 48,2%, reforçando a interligação entre saúde física e mental.


Geografia da saúde mental

A distribuição regional revela disparidades territoriais. O Grande Porto e o Litoral Centro apresentam maior prevalência de sintomas, coincidindo com regiões onde a perceção geral de saúde é mais baixa e o acesso a cuidados primários mais limitado.


O fosso entre necessidade e a procura de ajuda

Um dos dados mais relevantes do estudo é o desfasamento entre sentir necessidade de apoio e efetivamente procurá-lo.

gráfico a ilustrar a necessidade de ajuda profissional nos últimos 12 meses

29,7% dos portugueses sentiram necessidade de procurar um profissional de saúde mental no último ano, um valor estável face à edição anterior. Contudo, apenas 17,1% recorreram efetivamente a consultas de psicologia, psiquiatria ou terapia (ligeira descida de 2,1 p.p.).

gráfico a ilustrar a necessidade de ajuda profissional nos últimos 12 meses

O gap que aumentou

Entre quem apresentou sintomas e sentiu necessidade de ajuda, cerca de 50% não procurou apoio profissional, um aumento de 10,9 pontos percentuais face à edição anterior, quando este valor era de 35%. Este é o indicador mais preocupante do estudo: o fosso está a alargar-se.


Em números absolutos, cerca de 1.340.000 portugueses sofreram sintomas do foro mental e assumiram necessidade de ajuda profissional, mas metade não deu esse passo.

Por faixas etárias

A análise por idade mostra que o problema é transversal:

  • 18-24 anos: 42,1% sentiram necessidade, mas apenas 26,1% foram a consultas (gap de 16 p.p., apesar de uma descida de 9 p.p. na necessidade face à edição anterior)
  • 25-34 anos: 36,9% sentiram necessidade, mas só 23,2% recorreram a consultas (gap de 13,7 p.p.)

Apesar de serem os grupos que mais procuram ajuda em termos relativos, continuam a existir barreiras significativas.


Género e classe social

As mulheres reportam maior necessidade de ajuda (37,7% vs. 22% dos homens), mas o fosso entre necessidade e procura mantém-se também neste segmento.

As classes C2/D reportam necessidade acima da média, mas enfrentam maiores dificuldades de acesso, seja por limitações económicas, falta de disponibilidade no SNS ou distância geográfica dos serviços.


Saúde mental no local de trabalho: tema ainda pouco valorizado

O ambiente laboral português continua aquém no reconhecimento da saúde mental. Cerca de 60% dos portugueses consideram que a saúde mental não é valorizada no local de trabalho, um valor que se mantém estável face à edição anterior.

Este sentimento é particularmente marcado:

  • 65,1% entre os 45-54 anos, precisamente o grupo onde o stress mais aumentou
  • 63% entre quem já sentiu sintomas ou necessidade de ajuda, mostrando que quem mais precisa é quem menos apoio percebe

A falta de valorização no contexto laboral contribui para a perpetuação do problema, mantendo o tema como tabu e dificultando a procura de ajuda.

gráfico a ilustrar a valorização da saúde mental no local de trabalho

O estigma persiste e está a aumentar

Apesar do maior debate público sobre saúde mental, o desconforto em abordar o tema com pessoas próximas está a crescer.

29,3% dos portugueses não se sentem à vontade para discutir saúde mental com familiares ou amigos, um aumento face aos 25,4% registados na edição anterior. O estigma não está a diminuir; está a agravar-se.

gráfico a ilustrar quem fala de saúde menntal com familiare e amigos

Quem precisa sente-se mais isolado

Entre quem sentiu necessidade de procurar ajuda profissional no último ano, apenas 53,5% se sentem à vontade para falar sobre o assunto com pessoas próximas, uma descida acentuada de 8,5 pontos percentuais face à edição anterior (62%).

Este dado é particularmente relevante: quase metade de quem reconhece precisar de apoio também não consegue partilhar o problema com a rede de suporte mais próxima, ficando duplamente isolado.


Diferenças geracionais

Os 18-24 anos destacam-se pela maior abertura, sendo o único grupo onde aumentou a facilidade em falar sobre saúde mental. Nas restantes faixas etárias


Retrato por género: mulheres em sobrecarga

A análise por género confirma uma sobrecarga sistemática sobre as mulheres em todos os indicadores de saúde mental:

Indicador Mulheres Homens Diferença
Stress elevado 55% 44% +11 p.p.
Sintomas mentais 41,7% 29% +12,7 p.p
Necessidade de ajuda 37,7% 22% +15,7 p.p.

As mulheres apresentam valores consistentemente superiores, mas a taxa de procura efetiva de ajuda não é proporcionalmente maior, indicando que as barreiras de acesso afetam também este grupo.


Mapa geracional: padrões por idade

18-24 anos: Maior consciencialização e procura

  • 49,8% com sintomas (descida de 13,8 p.p.)
  • 42,1% sentiram necessidade de ajuda (descida de 9 p.p.)
  • 26,1% foram a consultas (descida de 8,2 p.p.)
  • São a geração mais consciente e mais disposta a procurar ajuda, mas o gap mantém-se elevado
  • Maior abertura para falar sobre saúde mental com familiares e amigos

25-34 anos: Vulnerabilidade persistente

  • 41,7% com sintomas
  • 36,9% sentiram necessidade de ajuda
  • 23,2% recorreram a consultas
  • Enfrentam instabilidade laboral, dificuldade em aceder a habitação e pressão para "construir vida"

35-44 anos: Acumulação de responsabilidades

  • Priorizam redução do cansaço (23,2% face a 17,7% da média nacional)
  • Vivem o auge de exigências profissionais e familiares simultâneas

45-54 anos: Pico do stress profissional

  • Stress aumentou 10 pontos percentuais face à edição anterior
  • 65,1% sentem desvalorização da saúde mental no trabalho
  • Priorizam controlo de peso (20,8%)
  • É a geração com maior acumulação de pressão em todas as esferas da vida

55-64 anos: Stress em queda

  • Stress desceu 9 pontos percentuais
  • Priorizam alimentação equilibrada (15,4%)
  • 16,3% dormem menos de 5 horas por noite, evidenciando desgaste acumulado

Mapa regional: desigualdades territoriais

Grande Porto

  • Stress e sintomas acima da média nacional
  • Perceção geral de saúde mais baixa (73,8% vs. 75,8% da média)
  • Destaca-se positivamente no acesso a médico de família (61,4%, +11,4 p.p. face à média)

Litoral Centro

  • Elevada prevalência de sintomas e stress
  • Perceção de saúde mais baixa (74,6%)
  • Acesso a médico de família abaixo da média (39,6%, -10,4 p.p.)

Litoral Norte

  • 46% referem ter médico de família mas dificuldade em marcar consultas
  • Maior bloqueio ao acesso a cuidados primários do país
  • Necessidades elevadas, respostas insuficientes
  • Grande Lisboa e Sul

Grande Lisboa e Sul

  • Maior abertura no discurso sobre saúde mental
  • Maior valorização de acompanhamento psicológico regular
  • Fosso entre necessidade e procura mantém-se presente

Outros indicadores relevantes

Prioridades de saúde

Reduzir stress/ansiedade é prioridade para 23,6% dos portugueses, especialmente entre os 25-34 anos (34% deste grupo). É o aspeto de saúde mais valorizado, à frente de redução do cansaço (17,7%) e controlo de peso (17,2%).


Benefício gratuito prioritário

Se pudessem aceder gratuitamente a um benefício de saúde:

13,6% escolheriam acompanhamento psicológico regular (sobe para 24,4% nos 18-24 anos e 22,5% nos 25-34 anos)


Conclusão: um desafio de saúde pública

O Estudo Nacional de Saúde 2025 da Marktest/Medicare confirma que a saúde mental continua a ser uma área crítica em Portugal. Com metade da população em stress elevado, um terço a apresentar sintomas e metade dos que precisam de ajuda sem a procurar, e com este fosso a aumentar, o país enfrenta um problema estrutural que requer intervenção coordenada.

Quatro áreas de intervenção prioritária

  1. Reduzir barreiras de acesso
    O gap entre necessidade (29,7%) e procura (17,1%) não é apenas individual. É preciso reforçar os serviços de psicologia e psiquiatria, reduzir tempos de espera e facilitar o acesso através dos médicos de família, especialmente no Litoral Norte onde 46% reportam dificuldades.
  2. Combater o estigma
    Com 29,3% a não se sentirem à vontade para falar de saúde mental com pessoas próximas — e este valor a subir — são necessárias campanhas de sensibilização, educação nas escolas e normalização do tema nos meios de comunicação.
  3. Valorizar a saúde mental no trabalho
    Com 60% a considerar que a saúde mental não é valorizada no local de trabalho, as empresas precisam de implementar programas de apoio concretos, formar lideranças e criar ambientes psicologicamente seguros.
  4. Atender às desigualdades
    As diferenças de género, idade, classe social e região exigem respostas específicas. Mulheres, jovens, classes C2/D e regiões do Norte necessitam de atenção particular nas políticas de saúde mental.

A saúde mental não é um tema secundário, mas uma condição essencial para o bem-estar individual e coletivo. Os dados do Estudo Nacional de Saúde 2025 da Marktest/Medicare mostram que Portugal tem consciência do problema, mas ainda não encontrou as respostas adequadas.

Fonte: Estudo Nacional de Saúde - Estado Geral de Saúde dos Portugueses

Caracterização da amostra
Este estudo tem por base uma amostra de 953 inquiridos. A recolha da informação foi conduzida através de entrevistas online, junto de uma amostra representativa e proporcional ao universo em estudo – Portugueses entre os 18 e os 64 anos residentes em Portugal Continental. Este estudo resulta de um questionário estruturado, constituído por perguntas fechadas, desenvolvido pela Medicare e revisto pela Marktest.

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