Displasia da anca nos bebés: sintomas, diagnóstico e tratamento
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Índice
A displasia da anca dos bebés é uma condição que afeta cerca de 1 a 2 em cada 1000 recém-nascidos.
Os rastreios ecográficos revelam que cerca de 40% dos bebés apresentam instabilidade da anca ao nascer, mas em 90% dos casos essa situação resolve-se espontaneamente até às seis semanas de vida, sem necessidade de tratamento.
Embora também possa surgir em crianças mais velhas, adolescentes ou mesmo adultos, esses casos são menos frequentes.
O que é a displasia da anca no bebé?
A displasia ocorre quando a articulação da anca não se desenvolve corretamente.
Uma anca saudável conta com uma articulação de bola e encaixe em que a cabeça do fémur, ou o osso da coxa, encaixa na perfeição na cavidade do osso pélvico, onde é suportada por músculos e por ligamentos.
Um bebé com displasia da anca não tem esse encaixe redondo, mas sim aplainado. Ou seja, a cabeça do fémur desencaixa-se com bastante frequência, de forma parcial ou completa, da cavidade do osso pélvico.
Graus de displasia
Os graus de displasia da anca no bebé variam em gravidade.
A classificação ultrassonográfica do quadril baseia-se na forma do teto ósseo e cartilaginoso, em relação à idade da criança, e não na posição da cabeça do fémur.
É utilizada a escala de Graf para classificar os diferentes tipos, sendo I o mais leve e IV o mais grave:
Tipo I
Quadril totalmente desenvolvido, com cavidade óssea bem formada e teto cartilaginoso que cobre a cabeça do fémur. Deve ser observado até ao 3.º mês de vida.
Tipo II
Quadril centralizado, mas com maior proporção de cartilagem e menos osso. O teto cartilaginoso cobre bem a cabeça do fémur, mas o desenvolvimento ósseo pode ser insuficiente ou adequado (subtipos IIa/IIb).
Tipo III
Quadril descentralizado. O teto ósseo é pobre, a borda óssea está achatada e o teto cartilaginoso desloca-se para cima (cranialmente).
Tipo IV
Também descentralizado, mas aqui a cabeça do fémur empurra o teto cartilaginoso completamente para baixo, não existindo cartilagem visível acima da cabeça do fémur.
Causas da displasia da anca
As causas exatas da displasia da anca no bebé são desconhecidas.
Durante o último mês antes do nascimento, o espaço no interior do útero pode ficar escasso ao ponto de a articulação da anca se deslocar da sua posição original, resultando num encaixe mais raso.
Dos fatores genéticos, mecânicos e hormonais que podem reduzir a quantidade de espaço no útero, incluem-se os seguintes:
Primeira gravidez;
Posição pélvica durante a gravidez;
Líquido amniótico reduzido (oligodramnio).
Fatores de risco
A displasia pode afetar qualquer uma das articulações, mas é mais comum no lado esquerdo.
Acredita-se que vários fatores aumentam o risco de uma criança desenvolver displasia da anca, nomeadamente:
Histórico familiar de displasia;
Enrolar o bebé firmemente com as pernas estendidas;
Género: bebés do sexo feminino têm 2 a 4 vezes mais probabilidades de apresentar a condição.
Complicações possíveis
Tanto bebés como adultos com displasia da anca apresentam um risco maior de luxação, uma vez que a articulação é naturalmente mais frágil. Normalmente, as luxações só ocorrem em situações de trauma severo, como acidentes de viação ou quedas graves, mas a displasia pode facilitar a ocorrência desse tipo de lesões.
Além da luxação, outras complicações possíveis incluem:
Necrose avascular da cabeça do fémur, cuja incidência varia entre 0% e 16%, dependendo da definição utilizada, da idade e gravidade da condição no início do tratamento e do tempo de acompanhamento clínico;
Displasia residual, que, apesar de pouco frequente, tende a aumentar após os 6 meses;
Danos na cartilagem interna da articulação da anca;
Instabilidade articular;
Osteoartrite.
Sinais de alerta
A displasia da anca é muitas vezes diagnosticada nos primeiros meses de vida, sendo identificada por sinais típicos, como:
Diferença no comprimento das pernas;
Menor mobilidade de uma perna em comparação com a outra;
Dobras de pele assimétricas na zona das coxas e nádegas;
Sensação de estalido ao movimentar a anca.
Quando o bebé começa a andar, pode notar-se uma marcha irregular ou mancar. Durante a troca de fraldas, um dos quadris pode parecer menos flexível.
Nos adolescentes e jovens, a displasia pode manifestar-se através de dor na virilha, principalmente após esforço físico, e por vezes de uma sensação de instabilidade na articulação da anca.
Tratamento
O tratamento depende da gravidade da displasia da anca no bebé. No entanto, o objetivo é restaurar a função normal da anca ao corrigir a posição ou estrutura da articulação.
A utilização de fraldas duplas, recomendada no passado, é desaconselhada pelos especialistas. É ineficaz e acaba por adiar o tratamento adequado.
Existem dois tipos de tratamento, um mais conservador, que inclui o arnês de Pavlik, e o cirúrgico.
Arnês de Pavlik
O tratamento conservador da displasia da anca é indicado quando a articulação pode ser reduzida diretamente ou após tração. Nos bebés com menos de 6 meses, recomenda-se o uso de um aparelho de abdução, sendo o arnês de Pavlik o mais utilizado.
Este dispositivo permite corrigir a posição da anca em cerca de 95% dos casos tratados antes dos 6 meses, desde que colocado por um ortopedista infantil para evitar complicações.
O arnês é geralmente usado 24 horas por dia, até que os exames (normalmente ecografias) confirmem que a articulação está estável. A duração do tratamento varia consoante a idade e a gravidade da displasia.
Após a remoção do arnês, o bebé deve recuperar a liberdade de movimentos. Muitas vezes é recomendada a prática de natação, para apoiar o fortalecimento e a mobilidade da anca.
Cirurgia
O tratamento cirúrgico pode ser necessário se o bebé for diagnosticado com displasia da anca após os 6 meses ou se o arnês de Pavlik não resultar.
A cirurgia pode ser simples, em caso de reposicionamento da cabeça do fémur no acetábulo, ou envolver processos complexos de osteotomia do fémur e/ou do ilíaco.
Em idades mais avançadas e como última instância, pode ser considerada a substituição da articulação por uma prótese.
Prognóstico
Deteção e tratamento precoces
Quando os protocolos de rastreio são seguidos, a displasia da anca pode ser diagnosticada logo nos primeiros meses de vida. O tratamento nesta fase tem um prognóstico muito favorável, permitindo que a maioria dos bebés não tenha efeitos a longo prazo.
Durante o tratamento, a criança pode demorar um pouco mais a começar a andar, mas, após a recuperação, desenvolve a marcha normalmente.
É importante manter a vigilância médica até à confirmação da cura ou exclusão definitiva da condição.
Diagnóstico e tratamento tardios
Se a displasia não for detetada ou tratada precocemente, as consequências são mais sérias. Nestes casos, a criança pode começar a andar mais tarde e mancar de forma persistente devido às alterações na articulação da anca.
Quanto mais avançada for a idade no início do tratamento, maior a probabilidade de ter sequelas permanentes e necessidade de abordagens terapêuticas mais invasivas, como a cirurgia.