
Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC): visão psicanalítica e estratégias para lidar
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Índice
- 1. Conflitos inconscientes e defesas do ego
- 2. Simbolismos inconscientes
- 3. Exercícios de Reflexão com base na Psicanálise
- 4. Reflexão Final
O Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC) caracteriza-se pela presença de obsessões ou compulsões persistentes. Esses elementos são tão intensos que geram sofrimento significativo e causam grandes prejuízos à vida do indivíduo, afetando a rotina diária, o trabalho e os relacionamentos.
A obsessão é um pensamento, imagem, perceção recorrente ou impulso intrusivo e indesejado que se repete na mente da pessoa. Já a compulsão é um comportamento repetitivo ou um ato mental, como contar, verificar ou evitar certas situações, que o indivíduo se sente compelido a executar.
É importante notar que o sujeito pode apresentar apenas obsessões, apenas compulsões ou, na maioria dos casos, ambos os sintomas. As compulsões geralmente servem como uma tentativa de neutralizar a ansiedade provocada pelas obsessões, criando um ciclo difícil de ser quebrado.
TOC segundo a Psicanálise: conflitos inconscientes e defesas do ego
Segundo a Psicanálise, o TOC é resultado de conflitos psíquicos inconscientes, frequentemente enraizados na infância, especialmente numa das fases psicosexuais do desenvolvimento, nomeadamente a fase anal.
A angústia surge da luta entre impulsos inaceitáveis (como agressividade ou sexualidade) e a censura do ego e do superego. O pensamento ou o ato obsessivo-compulsivo atua como uma defesa contra a ansiedade, funcionando como um ritual para "cancelar" ou neutralizar os desejos e impulsos proibidos.

TOC, agressividade e limpeza: simbolismos inconscientes
Agressão e Limpeza
A preocupação com a agressão ou a limpeza está presente na teoria psicanalítica sobre o TOC.
Sigmund Freud associava esses temas a conflitos da fase anal, relacionados com o controlo esfincteriano e a relação da criança com a autoridade e as regras.
Agressão
O medo de machucar ou contaminar o outro, ou a si mesmo, está ligado a impulsos agressivos e hostis que o indivíduo reprimiu. A obsessão pela agressão é, na verdade, uma representação simbólica de um impulso agressivo inconsciente que causa terror ao ego.
Limpeza
A compulsão por limpeza e higienização é vista como uma forma de "purificar" a si mesmo de pensamentos ou sentimentos “sujos” e “imundos”. Isto está diretamente relacionado com a repressão de desejos e fantasias sexuais e agressivas.
Ambivalência: Amor e Ódio contra o Objeto
A ambivalência entre amor e ódio por uma mesma pessoa ou objeto é uma característica fundamental do TOC na visão psicanalítica. O sujeito nutre um forte afeto por alguém (amor), mas ao mesmo tempo sente raiva ou hostilidade (ódio). A mente não consegue conciliar esses dois sentimentos contraditórios, o que gera grande conflito interno.
As compulsões e obsessões servem para “dissociar” esses sentimentos, tentando manter o amor e o ódio separados e controlados. Por exemplo, uma pessoa pode ter uma obsessão de machucar um ente querido, enquanto a compulsão de checar a porta dez vezes atua como uma maneira de neutralizar esse impulso, como se o ato compulsivo pudesse “proteger” a pessoa amada.

Exercícios de Reflexão com base na Psicanálise
1. Dê Voz ao Pensamento ou Impulso
Em vez de lutar contra a obsessão, tente observá-la e dar-lhe um espaço na sua mente. A psicanálise ensina que reprimir um pensamento só lhe dá mais força. O exercício aqui é o oposto:
- Pergunte: "O que esse pensamento me diz sobre o que estou a sentir?"
- Nomeie o sentimento: "Estou a sentir medo, raiva, vergonha?"
- Permita a associação livre: "O que mais me vem à mente quando penso nisso?"
"Isso lembra-me de algo da minha infância?"
O objetivo não é seguir o impulso, mas entender a sua origem. A mera observação, sem julgamento, pode diminuir a intensidade do pensamento.
2. Reconheça a Sua Ambiguidade (Amor e Ódio)
A psicanálise trabalha com a ideia de que sentimentos contraditórios por uma mesma pessoa são normais. Em vez de se sentir culpado por ter um pensamento “agressivo” sobre alguém que ama, tente reconhecer a ambivalência.
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Aceite que é possível amar e odiar a mesma pessoa.
Exemplo: “Amo o meu filho, mas sinto-me irritado quando ele não me obedece.” -
Lembre-se: ter um pensamento não é o mesmo que agir sobre ele.
Separar fantasia de realidade é fundamental.
Isto ajuda a reduzir a culpa e a ansiedade, pois não há necessidade de lutar contra uma parte de si mesmo.
3. Entenda a Compulsão como um Ritual Simbólico
A compulsão é vista como um ato que tenta, de forma mágica, “cancelar” a ansiedade.
- Pergunte-se: "O que este ritual está a tentar proteger?"
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Qual é o medo por trás dele?
Exemplo: "Se eu não contar até dez, algo mau vai acontecer com a minha família."
A compulsão, portanto, é uma tentativa simbólica de proteção. Compreender este simbolismo pode dar uma nova perspetiva sobre o sintoma, tornando-o menos aterrorizante e mais “legível”.
Reflexão Final
Estes exercícios não eliminam o sintoma de imediato, mas fornecem ferramentas mentais para diminuir o controlo que ele exerce sobre si. A psicanálise acredita que a verdadeira ressignificação vem da descoberta e da integração destes conteúdos inconscientes, e não de uma solução mágica.