
Cristais dos ouvidos: o que são e porque provocam vertigens?
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Índice
- 1. O que são?
- 2. Quais os sintomas da VPPB?
- 3. Porque se deslocam?
- 4. Tratamento
- 5. Méniére
Os cristais dos ouvidos são uma das principais causas de tonturas e vertigens, particularmente numa condição chamada Vertigem Postural Paroxística Benigna (VPPB). Esta condição insere-se no espectro síndrome vertiginoso, um conjunto de sintomas que afetam significativamente o equilíbrio e, consequentemente, a qualidade de vida.
Neste artigo,explicamos o que são estes cristais, porque se deslocam, os sintomas associados e os tratamentos disponíveis. Falamos também da diferença entre VPPB e doença de Ménière. Continue a ler para entender melhor este fenómeno e descubra como lidar com ele.
O que são os cristais dos ouvidos?
Os chamados cristais dos ouvidos são, na verdade, pequenas partículas de carbonato de cálcio chamadas otólitos ou otocónias, localizadas no ouvido interno, numa estrutura denominada utrículo. O ouvido interno é responsável pelo nosso equilíbrio, e estes cristais ajudam o cérebro a detetar mudanças de posição da cabeça.
Quando os cristais se soltam e se deslocam para os canais semicirculares do ouvido, interferem com a perceção normal de movimento, levando à Vertigem Postural Paroxística Benigna (VPPB). Este fenómeno é frequentemente descrito como um desalinhamento dos cristais dos ouvidos ou, popularmente, como doença dos cristais.
Quais os sintomas da VPPB?
A VPPB é caraterizada por episódios breves de vertigens intensas, geralmente desencadeados por mudanças súbitas na posição da cabeça, como ao virar-se na cama, inclinar-se para trás ou levantar-se rapidamente.
Estes episódios, provocados pelo desequilíbrio dos cristais dos ouvidos, costumam durar menos de um minuto, mas podem ser bastante desconfortáveis e limitantes.
Os sintomas comuns incluem:
- Sensação de que o ambiente está a girar (vertigem rotatória);
- Instabilidade ou perda de equilíbrio temporária, especialmente após os episódios de vertigem;
- Náuseas ou vómitos, dependendo da intensidade das crises;
- Sensação de cabeça leve ou desequilíbrio prolongado após o episódio;
- Dificuldade de concentração ou sensação de confusão ligeira.
É importante notar que os sintomas variam de pessoa para pessoa e, por vezes, podem ser confundidos com outras condições que afetam o ouvido interno ou o sistema nervoso. Ainda assim, no caso da VPPB, são geralmente episódicos e reproduzíveis, ou seja, surgem repetidamente com os mesmos movimentos.
Se experienciar estes sintomas de forma recorrente, é essencial consultar um otorrinolaringologista para obter um diagnóstico preciso e iniciar o tratamento adequado.
Porque saem do sítio os cristais dos ouvidos?
Os episódios de vertigem associados à VPPB resultam do desalinhamento dos cristais dos ouvidos. Quando tudo funciona normalmente, os cristais permanecem fixos nas suas estruturas. No entanto, em alguns casos, os cristais deslocam-se para os canais semicirculares do ouvido interno.
Esta deslocação interfere com a perceção de movimento, provocando uma resposta exagerada aos estímulos que envolvem alterações de posição da cabeça, o que desencadeia episódios de vertigem postural.
Mas porque se deslocam os cristais? As causas mais comuns incluem:
- Envelhecimento natural, que pode enfraquecer o tecido que mantém os cristais nos seus locais naturais;
- Traumatismos cranianos ou pancadas na cabeça, que podem perturbar o equilíbrio das estruturas internas;
- Infeções ou inflamações, como a labirintite, que comprometem o sistema vestibular;
- Cirurgias ao ouvido interno ou ao cérebro, que alteram o posicionamento dos otólitos;
- Longos períodos de imobilidade, como acontece após ficar acamado ou em repouso prolongado;
- Fatores genéticos, que podem aumentar a predisposição para o desenvolvimento da VPPB;
- Movimentos bruscos repetidos ou dormir frequentemente em posições que pressionem um dos lados da cabeça.
Curiosamente, em muitos casos a origem é idiopática, ou seja, não se consegue identificar uma causa específica.
A VPPB é mais comum em pessoas com mais de 50 anos e afeta mais mulheres do que homens.

Apesar de ser uma condição benigna, o desalinhamento dos cristais dos ouvidos pode causar um impacto significativo na qualidade de vida, sobretudo quando os episódios são recorrentes.
Reconhecer os fatores de risco e ter alguns cuidados, como evitar movimentos bruscos da cabeça, pode ajudar a reduzir a frequência das crises e melhorar o bem-estar diário.
Quais as opções de tratamento?
O tratamento da Vertigem Postural Paroxística Benigna é geralmente simples e muito eficaz. Na maioria dos casos, o objetivo é reposicionar os cristais para a sua localização correta no ouvido interno, aliviando assim os sintomas de vertigem.
Manobras de reposicionamento
O método mais comum é a realização de manobras de reposicionamento canalicular, como a manobra de Epley ou a manobra de Semont. Estas técnicas consistem em movimentar cuidadosamente a cabeça e o corpo do paciente em determinadas posições para guiar os cristais desalinhados para fora dos canais semicirculares e de volta ao utrículo, onde não causam sintomas.
Estas manobras podem ser realizadas por um fisioterapeuta, otorrinolaringologista ou especialista de medicina física e reabilitação. As manobras podem proporcionar alívio imediato, algumas horas depois, ou em poucas sessões.
O tratamento pode também incluir medicação para náuseas ou vertigem, usada apenas temporariamente para aliviar os sintomas, bem como evitar movimentos bruscos da cabeça nos dias seguintes à manobra, conforme indicação clínica.
Reabilitação vestibular
Nos casos em que os sintomas persistem ou se tornam recorrentes, pode ser indicada fisioterapia vestibular. Este tipo de terapia inclui exercícios personalizados para melhorar o equilíbrio, reduzir a sensibilidade ao movimento e ajudar o cérebro a adaptar-se às alterações no sistema vestibular.
Alternativa cirúrgica
Em situações raras, quando as manobras de reposicionamento não produzem os resultados esperados ou quando as crises de vertigem são muito frequentes e incapacitantes, pode ser considerada uma intervenção cirúrgica.
O procedimento mais comum é a cirurgia de obturação do canal, em que se utiliza um tampão ósseo para bloquear o canal semicircular afetado. Ao impedir que este canal responda aos movimentos dos cristais ou da cabeça, eliminam-se os estímulos anómalos que causam vertigens. Esta cirurgia tem uma taxa de sucesso de cerca de 90%, sendo geralmente segura e bem tolerada.
Como se distingue da doença de Ménière?
Embora a VPPB e a doença de Ménière possam apresentar sintomas semelhantes, como vertigem intensa, perda de equilíbrio e náuseas, são condições distintas, com causas, tratamentos e prognósticos diferentes. 1 e 3 - 12
A doença de Ménière é uma patologia crónica do ouvido interno, caraterizada por episódios súbitos e recorrentes de vertigem, acompanhados de outros sintomas específicos, como:
- Perda auditiva flutuante, geralmente num só ouvido;
- Sensação de pressão no ouvido afetado;
- Zumbido persistente (tinnitus);
- Episódios de vertigem que duram de 20 minutos até várias horas.
Por outro lado, a VPPB causa crises súbitas e de curta duração (menos de um minuto), desencadeadas por alterações de posição da cabeça.
Principais diferenças entre VPPB e Ménière | ||
---|---|---|
Caraterística | VPPB | Doença de Ménière |
Duração das vertigens | Segundos a minutos | 20 minutos a várias horas |
Desencadeador | Movimento da cabeça | Espontâneo, sem causa específica |
Audição | Normal | Perda auditiva flutuante |
Zumbido | Raro | Frequente |
Frequência | Recorrente, mas episódica | Crónica, com agravamento progressivo |
Deslocação cristais | Sim | Não |
Se os episódios de vertigem forem prolongados, acompanhados de perda auditiva, zumbido persistente e pressão no ouvido, é fundamental procurar avaliação médica detalhada. O diagnóstico diferencial pode incluir exames como audiogramas, eletronistagmografia e ressonância magnética.
Como prevenir a VPPB?
Embora o tratamento da VPPB seja eficaz, a condição pode ser recorrente, especialmente em pessoas mais propensas a desequilíbrios nos cristais dos ouvidos. Há algumas medidas simples que podem ajudar a prevenir novas crises:
- Evitar movimentos bruscos da cabeça. Mudanças rápidas de posição, como levantar-se repentinamente ou inclinar-se para trás, podem criar novas crises. Tente realizar os movimentos de forma lenta e controlada;
- Dormir com a cabeça ligeiramente elevada. Use uma almofada adicional para manter a cabeça mais elevada do que o corpo. Evite dormir sempre do mesmo lado, especialmente se já teve crises desse lado;
- Rever as manobras. Se já teve VPPB e aprendeu as manobras de reposicionamento, mantenha essa aprendizagem atualizada. Executar a manobra de Epley em casa ao primeiro sinal de sintomas pode evitar o agravamento;
- Reabilitação vestibular. Fazer exercícios de reabilitação vestibular mesmo após o desaparecimento dos sintomas pode ajudar a fortalecer o sistema de equilíbrio e reduzir o risco de recaídas;
- Manter atividade física regular. O sedentarismo pode favorecer o desequilíbrio dos cristais dos ouvidos. Caminhadas leves e movimentos controlados da cabeça ajudam a manter o sistema vestibular ativo e saudável;
- Consultar regularmente um médico. Em casos de vertigens persistentes ou recorrentes, é essencial ter um acompanhamento médico para despistar outras causas e ajustar o plano de prevenção.

Perguntas frequentes
Confira a resposta às dúvidas mais frequentes sobre cristais dos ouvidos.
Quanto tempo demora a passar a VPPB?
A Vertigem Postural Paroxística Benigna pode desaparecer espontaneamente ao fim de alguns dias ou semanas. No entanto, quando os cristais dos ouvidos estão desalinhados, os episódios podem persistir até que o organismo os reabsorva ou que sejam reposicionados através de manobras específicas.
O tratamento adequado costuma acelerar muito este processo, com muitos pacientes a sentirem alívio logo após a primeira sessão.
O que fazer quando tenho tonturas?
Quando ocorrem episódios de VPPB, o ideal é manter a calma e evitar movimentos bruscos. Sente-se ou deite-se imediatamente e, se possível, evite virar a cabeça ou mudar de posição repentinamente.
Caso a sensação de desequilíbrio dos cristais dos ouvidos seja recorrente, é importante procurar ajuda médica para um diagnóstico e tratamento adequados.
A VPPB tem cura?
Sim. A VPPB é considerada uma condição benigna e tratável. A maioria dos casos responde muito bem a manobras de reposicionamento, como a de Epley ou de Semont, que facilitam o alinhamento dos cristais do ouvido. No entanto, algumas pessoas podem ter recaídas, sendo útil aprender técnicas preventivas e, em certos casos, realizar fisioterapia vestibular.
Os cristais dos ouvidos podem desaparecer sozinhos?
Sim, em alguns casos, o organismo pode reabsorver os cristais deslocados ou adaptá-los a uma nova posição, fazendo com que os sintomas desapareçam sem tratamento específico. Ainda assim, quando os sintomas são frequentes ou muito desconfortáveis, é recomendado recorrer a tratamento para acelerar a recuperação.
Pode afetar os dois ouvidos?
Apesar de ser mais comum afetar apenas um ouvido, a VPPB pode ocorrer em ambos. Nestes casos, o síndrome vertiginoso tende a ser mais intenso e a exigir um plano de tratamento adaptado, podendo incluir sessões de reabilitação vestibular mais frequentes.
O desalinhamento dos cristais dos ouvidos pode voltar a acontecer?
Sim, é possível ter recaídas, especialmente se existirem fatores de risco como traumatismos cranianos, infeções do ouvido ou envelhecimento do sistema vestibular. Mas é possível adotar estratégias para prevenir novos episódios.
O síndrome vertiginoso pode ter várias causas, mas os cristais dos ouvidos desalinhados são uma das mais comuns. Se tem sintomas de Vertigem Postural Paroxística Benigna, procure apoio médico. O diagnóstico precoce e o tratamento correto fazem toda a diferença no alívio dos sintomas.