O guia completo sobre a mononucleose
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A mononucleose, popularmente conhecida como a doença do beijo ou a doença do beijinho, não costuma ser grave, mas pode originar complicações, sobretudo a nível neurológico, hepático, esplénico (baço) e hematológico.
Trata-se de uma infeção viral autolimitada, que afeta principalmente adolescentes e jovens adultos. Embora melhore sem tratamento específico, pode prolongar-se durante semanas e causar bastante mal-estar.
Fadiga extrema, dor de garganta, febre e dores no corpo são alguns dos sintomas que podem ser aliviados com medidas de suporte até que a doença desapareça por si só. Continue a ler e fique a saber tudo sobre esta infeção contagiosa.
O que é a mononucleose infeciosa?
A mononucleose, ainda que possa ser causada por outros vírus, resulta sobretudo da infeção pelo vírus Epstein-Barr (VEB), um herpesvírus muito comum. A transmissão dá-se, principalmente, através do contacto com saliva infetada.
Mais frequente em adolescentes e jovens adultos, a doença também pode afetar crianças, que, geralmente, apresentam sintomas ligeiros ou passam despercebidos. Estima-se que 1 em cada 4 jovens infetados com o VEB desenvolva mononucleose com sintomas típicos.
Apesar de geralmente ser uma condição benigna e autolimitada, pode provocar cansaço intenso e, em alguns casos, originar complicações em órgãos como o fígado, o baço ou o sistema nervoso, pelo que é recomendado acompanhamento médico.
Como se transmite?
A mononucleose recebeu este nome devido à presença de muitos glóbulos brancos mononucleares (linfócitos atípicos) no sangue dos doentes.
Transmite-se sobretudo através da saliva, razão pela qual é conhecida como a doença do beijo. Pode passar de pessoa para pessoa ao beijar, mas também ao partilhar copos, talheres, garrafas, escovas de dentes ou outros objetos contaminados.
Embora menos comum, a infeção também pode ocorrer por gotículas de tosse ou espirros, bem como através de outros fluidos corporais (como sangue e sémen), nomeadamente em transfusões de sangue, transplantes de órgãos ou contactos sexuais.
No entanto, a mononucleose não é tão contagiosa quanto algumas infeções, como a constipação comum.
Após a infeção inicial, o vírus permanece no organismo durante toda a vida, alojado principalmente nos glóbulos brancos. Uma pessoa pode ter o vírus ativo na orofaringe durante meses após os sintomas desaparecerem, continuando a transmitir a infeção sem o saber.
Importa lembrar que nem todos os expostos ao vírus desenvolvem mononucleose. Muitas infeções ocorrem ainda na infância, de forma silenciosa ou com sintomas muito ligeiros.
Quais os sintomas da mononucleose?
Os sintomas da mononucleose infeciosa podem variar muito de pessoa para pessoa. Alguns doentes quase não sentem alterações, enquanto outros desenvolvem sinais semelhantes aos de uma gripe forte.
De forma geral, os sintomas surgem quatro a seis semanas após o contacto com o vírus Epstein-Barr (VEB) e podem durar várias semanas. Os mais comuns incluem:
Fadiga extrema, sensação de cansaço constante, que pode persistir mesmo após dormir bem;
Febre, geralmente entre 38 °C e 40 °C;
Dor de garganta intensa, por vezes com amígdalas inchadas e manchas esbranquiçadas;
Gânglios linfáticos inchados no pescoço, axilas ou virilhas;
Dores de cabeça e dores musculares semelhantes às de uma gripe;
Perda de apetite.
Linfadenopatia cervical posterior e inchaço das pálpebras (sinal de Hoagland)
Em alguns casos, também podem surgir:
Erupção cutânea (mais difícil de notar em peles escuras);
Aumento do fígado e/ou do baço que pode persistir mesmo após a melhoria dos outros sintomas;
Problemas hepáticos ligeiros, como inflamação ou, raramente, icterícia temporária.
Na maioria das pessoas, os sintomas melhoram em duas a quatro semanas, mas o cansaço pode prolongar-se durante mais algum tempo. Em situações graves, podem ocorrer complicações, como alterações no sangue, fígado, coração ou sistema nervoso, embora sejam pouco frequentes.
Nas crianças pequenas, a infeção primária por VEB é, normalmente, assintomática.
Como é tratada?
O diagnóstico da mononucleose infeciosa pode ser um desafio, já que os sintomas são semelhantes aos de outras doenças, como a gripe ou a faringite estreptocócica.
Para confirmar a infeção, o médico pode recorrer a exames clínicos e laboratoriais, incluindo análises ao sangue, que avaliam a presença de anticorpos específicos.
Atualmente, não existe tratamento específico nem vacina contra a mononucleose. Os antivirais não têm eficácia comprovada, e por isso não são recomendados. O tratamento é sobretudo de suporte, com foco no alívio dos sintomas e na recuperação do organismo.
As principais medidas são:
Repouso adequado, essencial para ajudar o corpo a recuperar;
Hidratação, com ingestão de pelo menos 1,5 litros de água por dia ou outras bebidas leves;
Cuidados alimentares, privilegiando refeições leves, alimentos moles (iogurtes, sopas, gelados), gorduras saudáveis (como azeite) e evitando comidas muito condimentadas ou salgadas;
Analgésicos e anti-inflamatórios de venda livre, que podem ser usados para reduzir a febre, dor de garganta e dores no corpo (sempre com orientação médica).
Em caso de complicações, como obstrução das vias aéreas e citopenias significativas (níveis anormalmente baixos das células sanguíneas), pode recorrer-se a corticosteroides. Pelo contrário, devem ser evitadas aminopenicilinas, devido ao risco de exantema (manchas vermelhas na pele).
Se houver aumento do baço (esplenomegalia), é fundamental evitar esforços físicos e atividades de contacto, já que existe risco de rutura do órgão.
Geralmente, os sintomas desaparecem entre duas e quatro semanas, embora a fadiga possa persistir durante mais algum tempo. Em situações mais raras, a recuperação completa pode demorar até seis meses.
Como prevenir a mononucleose?
Atualmente, não existe vacina contra a mononucleose infeciosa, causada na maioria dos casos pelo vírus Epstein-Barr.
A prevenção centra-se sobretudo em medidas de higiene e cuidados com os contactos próximos:
Evitar partilhar utensílios pessoais, como copos, talheres, garrafas, escovas de dentes, já que o vírus transmite-se pela saliva;
Reduzir contactos íntimos, como beijos, especialmente com pessoas infetadas ou em recuperação;
Lavar frequentemente as mãos, em especial após tossir, espirrar ou manipular lenços usados;
Reforçar o sistema imunitário com uma alimentação equilibrada, descanso adequado e hidratação.
Quem está mais em risco?
A mononucleose pode afetar qualquer pessoa, mas é mais frequente em adolescentes e jovens adultos, sobretudo entre os 15 e os 25 anos.
Os grupos com maior risco incluem:
Estudantes e jovens adultos em ambientes escolares ou universitários, devido à proximidade social e partilha de objetos;
Pessoas com sistema imunitário enfraquecido, que podem ter sintomas mais intensos ou complicações;
Profissionais de saúde ou cuidadores que lidam de perto com fluidos corporais de doentes infetados.
Perguntas frequentes sobre a mononucleose infeciosa
Apesar de ser uma doença comum, a mononucleose continua a levantar muitas dúvidas, sobretudo sobre contágio, riscos e cuidados a ter. Para o ajudar, respondemos a algumas perguntas frequentes.
Qual é o período de contágio da mononucleose?
O vírus Epstein-Barr pode permanecer na saliva entre várias semanas ou meses após a infeção, mesmo depois de os sintomas terem desaparecido. Ou seja, a pessoa pode continuar a transmitir o vírus mesmo quando já se sente melhor.
Quais são os perigos da mononucleose durante a gravidez?
Embora a mononucleose durante a gravidez não seja geralmente considerada uma ameaça grave, pode trazer riscos se provocar complicações como febre alta, desidratação ou alterações hepáticas.
Nestes casos, é essencial um acompanhamento médico adequado para proteger a mãe e o bebé.
A mononucleose é sexualmente transmissível?
A mononucleose não é classificada como uma infeção sexualmente transmissível (IST).
No entanto, pode ser transmitida através do beijo ou de práticas sexuais que envolvam troca de saliva e, ainda que raramente, através de outros fluidos corporais, como sangue e sémen.
É preciso fazer isolamento se tiver mononucleose?
Não é necessário isolamento formal, como acontece em doenças de elevada transmissibilidade, mas recomenda-se evitar o contacto próximo, especialmente beijos e partilha de utensílios, enquanto houver sintomas, ou nas semanas seguintes.