
O que é a hipotermia e como tratar?
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Índice
- 1. O que é?
- 2. Temperatura
- 3. O que causa?
- 4. Quem está em risco?
- 5. Quais as complicações?
A hipotermia ocorre quando a temperatura corporal desce perigosamente abaixo do normal. As causas mais comuns incluem a exposição ao frio intenso ou imersão em água fria. Em situações extremas, esta condição médica pode representar um risco de vida significativo.
Neste artigo, vamos explicar o que é a hipotermia, os seus diversos sintomas e fases de progressão, bem como as estratégias de tratamento eficazes para elevar rapidamente a temperatura do corpo em casos de emergência. Compreender a hipotermia e saber como agir prontamente pode fazer toda a diferença.
O que é a hipotermia?
A hipotermia é uma temperatura corporal anormalmente baixa que ocorre quando o corpo perde calor mais rapidamente do que aquele que consegue produzir. Esta situação afeta o funcionamento do coração, sistema nervoso e outros órgãos. Se não for tratada de imediato, pode levar à falência de órgãos e, em casos extremos, à morte.
É uma condição particularmente perigosa, porque pode surgir de forma gradual e silenciosa, sobretudo em ambientes muito frios ou húmidos, ou após exposição prolongada a baixas temperaturas.

A hipotermia é considerada a partir de que temperatura corporal?
A temperatura corporal normal é de cerca 37 °C. Considera-se que uma pessoa está em hipotermia quando a temperatura corporal desce abaixo dos 35 °C. Em algumas situações, a temperatura corporal baixa pode atingir níveis alarmantes sem que a pessoa se aperceba imediatamente.
Quais os sintomas da hipotermia?
Os principais sintomas de hipotermia variam consoante a gravidade da condição. Nos estágios iniciais, podem surgir sinais subtis, como arrepios de frio e confusão mental. Com o agravamento, os sintomas tornam-se mais evidentes e perigosos.
Ligeira (35 °C a 32 °C)
Nesta fase inicial, o corpo tenta compensar a perda de calor com mecanismos como os tremores. Os principais sinais incluem:
- Tremores intensos e bater de dentes;
- Cansaço e exaustão;
- Lentidão nos movimentos e reflexos;
- Dificuldade em falar;
- Sonolência;
- Frequência cardíaca e respiratória aceleradas (taquicardia e taquipneia);
- Palidez;
- Confusão ou perda de consciência;
- Vontade frequente de urinar.
Moderada (32 °C a 28 °C)
À medida que a temperatura corporal continua a baixar, os sinais tornam-se mais preocupantes. Nesta fase, os tremores começam a diminuir e surgem alterações cognitivas e motoras mais acentuadas:
- Respiração e batimentos cardíacos mais lentos;
- Fala arrastada;
- Diminuição da função mental;
- Alucinações;
- Cianose (coloração azulada da pele);
- Rigidez muscular crescente;
- Pupilas dilatadas;
- Ritmos cardíacos irregulares;
- Tensão arterial em queda;
- Reflexos enfraquecidos;
- Possível perda de consciência.
Grave (inferior a 28 °C)
Esta é a fase mais crítica da hipotermia, podendo conduzir à falência dos órgãos e à morte. Os sinais incluem:
- Desaparecimento dos tremores;
- Hipotensão (tensão arterial muito baixa);
- Presença de líquido nos pulmões;
- Ausência de reflexos;
- Rigidez muscular generalizada;
- Incapacidade de realizar movimentos voluntários;
- Redução significativa da produção de urina (oligúria);
- Paragem cardíaca;
- Coma profundo, que pode ser confundido com morte.
O que causa a baixa temperatura corporal?
A temperatura corporal baixa pode resultar da exposição prolongada a ambientes frios, húmidos ou ventosos, mesmo que a temperatura ambiente não seja extremamente baixa. A situação agrava-se em casos de contacto com água fria ou uso de roupa molhada.
Esta condição pode ser classificada como:
- Hipotermia acidental: surge de forma involuntária, geralmente por exposição inesperada ao frio;
- Hipotermia primária: causada exclusivamente por fatores ambientais, sem doenças subjacentes.
As causas mais comuns incluem:
- Uso de roupa inadequada para o frio;
- Permanência prolongada em ambientes frios (interiores ou exteriores);
- Submersão em água fria, como, por exemplo, quedas em rios, lagos ou no mar;
- Estar com roupa molhada em ambientes frios;
- Viver em habitações mal aquecidas.
Em algumas situações, a hipotermia pode ser induzida de forma controlada em ambiente hospitalar, com fins terapêuticos. É o caso da hipotermia intencional, utilizada, por exemplo, para proteger o cérebro em situações de risco.

Quem está mais em risco?
Embora qualquer pessoa possa desenvolver hipotermia, há grupos mais vulneráveis, sobretudo quando estão presentes condições médicas, comportamentais ou ambientais específicas, caraterizando frequentemente a hipotermia secundária.
Os grupos de maior risco são:
- Idosos: apresentam menor capacidade de produzir calor, menos gordura corporal e, frequentemente, doenças ou medicamentos que dificultam a regulação térmica. Muitos vivem sozinhos e em casas mal aquecidas.
- Bebés e crianças pequenas: perdem calor mais rapidamente devido à maior área de superfície em relação ao peso e podem não reconhecer ou comunicar que estão com frio.
- Pessoas em situação de sem-abrigo: pela exposição constante ao frio, muitas vezes sem vestuário ou abrigo adequados.
- Aventureiros e praticantes de desportos ao ar livre: como caminhantes, esquiadores, caçadores ou pescadores, especialmente se não estiverem preparados para condições frias e húmidas.
- Pessoas com problemas de saúde mental: como demência ou perturbações do desenvolvimento, que podem afetar o julgamento, a perceção do frio ou a capacidade de se proteger adequadamente.
- Consumidores de álcool ou drogas: substâncias como o álcool aumentam a perda de calor (por vasodilatação) e reduzem a perceção do frio e o discernimento.
- Pessoas com determinadas condições médicas: como hipotiroidismo, diabetes, anorexia nervosa, AVC, lesões na medula espinhal ou doenças neurodegenerativas, que comprometem a produção de calor ou a regulação da temperatura corporal.
- Utilizadores de medicamentos que afetam o sistema nervoso ou a circulação: como sedativos, opioides, antipsicóticos ou clonidina (medicamento usado para tratar a hipertensão), que podem interferir na resposta do organismo ao frio.
Quais as complicações associadas à hipotermia?
A hipotermia pode provocar várias complicações, algumas das quais graves e potencialmente fatais.
Uma das mais frequentes é a queimadura do frio, uma lesão localizada causada por exposição prolongada a temperaturas muito baixas. Se não for tratada a tempo, pode evoluir para necrose (gangrena seca) e, em casos de infeção secundária, para gangrena húmida.
Infeções por bactérias anaeróbias, como a Clostridium perfringens, podem produzir gás nos tecidos, manifestando-se como crepitações na pele. Nestes casos, pode ser necessária a amputação do membro afetado.
Outras complicações associadas à hipotermia incluem:
- Diurese provocada pelo frio (eliminação excessiva de urina);
- Rabdomiólise (destruição muscular);
- Aspiração (entrada de conteúdo gástrico ou saliva nos pulmões);
- Hipercaliemia (níveis elevados de potássio no sangue);
- Lesão renal aguda;
- Edema pulmonar (acumulação de líquido nos pulmões);
- Ataxia (falta de coordenação motora);
- Arritmias cardíacas, como fibrilhação auricular ou ventricular e atividade elétrica sem pulso;
- Pancreatite;
- Coma;
- Morte.
Além disso, o processo de aquecimento do corpo após um episódio de hipotermia também pode causar complicações, como:
- Miocardiopatia de Takotsubo (disfunção temporária do coração);
- Inflamação sistémica;
- Alterações eletrolíticas, como hipercaliemia, hipofosfatemia, hipomagnesemia e hipocalcemia;
- Rabdomiólise;
- Arritmias cardíacas;
- Infeções, como pneumonia;
- Disfunção das plaquetas, levando a problemas de coagulação, hemorragias ou tromboses;
- Alterações na regulação da glicose, desde diminuição da utilização até resistência à insulina.
O reconhecimento precoce dos sintomas e o tratamento adequado da hipotermia são essenciais para reduzir o risco destas complicações.
O que fazer enquanto espera por assistência médica?
Se suspeitar que alguém está a sofrer de hipotermia, pode tomar vários cuidados para ajudar a pessoa enquanto aguarda por assistência médica. Estas são as principais recomendações:
- Desloque a pessoa para um local abrigado: leve a vítima para dentro de casa ou para qualquer lugar aquecido e protegido o mais rápido possível.
- Retire a roupa molhada: remova toda a roupa molhada da vítima e envolva-a em mantas secas, um saco de dormir ou toalhas secas, assegurando-se de que a cabeça está bem coberta.
- Aqueça o centro do corpo: se tiver uma manta térmica ou cobertor por perto, use-o para aquecer as zonas centrais do corpo (peito, pescoço, cabeça e virilhas). Caso contrário, recorra ao contacto pele a pele com a vítima, pois o seu calor corporal pode ajudar a aumentar a temperatura da pessoa.
- Ofereça bebidas quentes: se a vítima estiver consciente e completamente acordada, ofereça-lhe uma bebida quente sem álcool, como chá ou água. Alimentos açucarados, como o chocolate, também podem ajudar a aumentar os níveis de energia.
- Mantenha a pessoa acordada: converse com a vítima e mantenha-a desperta até que a ajuda médica chegue.
- Certifique-se de que alguém fica com a vítima: não deixe a vítima sozinha enquanto espera por assistência.
O que não fazer?
É crucial ter em mente que certas ações podem prejudicar a vítima. Evite as seguintes:
- Não use banhos quentes nem fontes de calor direto: evite o uso de água quente, botijas de água quente ou lâmpadas de aquecimento diretamente na pele, pois isso pode causar danos.
- Não esfregue a pele da vítima: não esfregue os braços, pernas, pés ou mãos da vítima, pois isso pode piorar a situação e danificar a pele.
- Não ofereça álcool: não dê bebidas alcoólicas à vítima, pois o álcool dilata os vasos sanguíneos e pode fazer com que perca calor corporal mais rapidamente.
- Não manipule a vítima bruscamente: seja suave ao movimentar a vítima, pois movimentos bruscos podem causar lesões adicionais.
Como aquecer um bebé com hipotermia?
Nos bebés, a temperatura corporal baixa pode ser particularmente perigosa. Os sinais incluem pele vermelha e fria, letargia e respiração lenta. Para aquecer um bebé com hipotermia, proceda assim:
- Envolva-o numa manta de hipotermia ou cobertor quente;
- Coloque-o em contacto pele a pele com um adulto, se possível;
- Mantenha a cabeça coberta;
- Evite banhos quentes e fontes de calor diretas;
- Procure ajuda médica imediatamente.

Qual o tratamento médico para a hipotermia?
A hipotermia deve ser tratada rapidamente por profissionais de saúde. Enquanto espera por assistência médica, os primeiros socorros podem ser úteis, mas a vítima necessita de cuidados médicos especializados para prevenir complicações mais graves.
Dependendo da gravidade da hipotermia, o tratamento médico de emergência pode incluir uma das seguintes intervenções para aumentar a temperatura corporal:
- Aquecimento passivo: em casos leves de hipotermia, cobrir a pessoa com cobertores aquecidos e oferecer líquidos quentes (como chá ou sopas) pode ser suficiente para ajudar a elevar gradualmente a temperatura corporal.
- Aquecimento sanguíneo: o sangue pode ser retirado do corpo, aquecido e recirculado. Um método comum para aquecer o sangue é o uso de máquinas de hemodiálise, normalmente utilizadas para filtrar o sangue de pessoas com insuficiência renal. Em situações mais críticas, pode ser necessário o uso de máquinas de bypass cardíaco.
- Fluidos intravenosos aquecidos: uma solução salina morna pode ser administrada por via intravenosa para ajudar a aquecer o corpo de forma controlada.
- Aquecimento das vias respiratórias: a administração de oxigénio humedecido e aquecido, com uma máscara ou tubo nasal, pode ajudar a aquecer as vias respiratórias e contribuir para o aumento gradual da temperatura corporal.
- Irrigação com líquidos mornos: uma solução salina morna pode ser utilizada para irrigar certas áreas do corpo, como a cavidade torácica (à volta dos pulmões) ou a cavidade abdominal. O líquido é administrado por pequenos tubos chamados cateteres.
Em casos de hipotermia grave, pode ser necessário tratamento em unidades de cuidados intensivos.
A hipotermia é uma emergência médica que não deve ser subestimada. É fundamental identificar os sintomas rapidamente para evitar complicações sérias. Mantenha-se atento ao frio, vestindo-se adequadamente e permanecendo em ambientes aquecidos.
Se suspeitar de hipotermia secundária ou episódios recorrentes de temperatura corporal baixa, consulte o seu médico assistente. Em caso de emergência, contacte imediatamente o 112.
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