Os desodorizantes com alumínio causam cancro? Saiba o que diz a ciência

O desodorizante comum não tem alumínio na sua composição, mas a maioria dos antitranspirantes contém esse ingrediente.

Um produto «dois em um» — ou seja, desodorizante e antitranspirante — possui diversos ingredientes, incluindo sais de alumínio. De modo a interromper a transpiração, esses sais dissolvem-se na pele e fixam-se nos poros, ajudando a obstruí-los.

Devido à sua composição, existe a ideia de que os desodorizantes com alumínio causam cancro, como cancro da pele ou da mama. Será que a ciência corrobora?

Quais os componentes dos desodorizantes?

Antes de verificarmos o que diz a ciência sobre a relação entre cancro e o uso de desodorizantes, é importante perceber o que contêm estes produtos.

Na lista de ingredientes destes produtos, é provável encontrar algumas toxinas com potencial químico, tais como:

• Propilenoglicol: é um composto químico conhecido pelo seu uso industrial, embora seja considerado seguro em baixas concentrações para uso cosmético, alimentar e medicamentoso do dia a dia.

• Parabenos: são conservantes encontrados em diversos produtos de higiene pessoal. Podem imitar o estrogénio e interferir com o equilíbrio hormonal natural do organismo.

• Triclosan: embora seja classificado como agente antimicrobiano de uso tópico, a sua eficácia na prevenção do crescimento bacteriano tornou o triclosan um ingrediente habitual na composição de sabonetes antibacterianos, dentífricos e produtos de maquilhagem, entre outros.

• Ftalatos: estas substâncias químicas estão presentes em muitos utensílios domésticos, embora vários produtos que contêm ftalatos tenham sido retirados das lojas em prol da segurança do consumidor.

Os antitranspirantes ou desodorizantes com alumínio causam cancro?

Durante muitos anos, circularam rumores online de que os desodorizantes para as axilas podiam causar cancro da mama.

Sugeria-se que o alumínio presente nos desodorizantes impedia a eliminação de toxinas através do suor, que obstruía os gânglios linfáticos e, como resultado, provocavam cancro da mama.

Contudo, os gânglios linfáticos do nosso organismo ajudam a eliminar bactérias, vírus e outras possíveis ameaças, mas não libertam resíduos ou toxinas através do suor, até porque os gânglios linfáticos não estão ligados com as glândulas sudoríparas.

A maioria das substâncias cancerígenas que entra no corpo é removida do sangue pelos rins e pelo fígado. Ou seja, através da urina e das fezes, respetivamente.

Além disso, o cancro da mama começa na mama e espalha-se para os gânglios linfáticos, e não o inverso.

Embora as evidências sobre a relação entre alumínio e cancro sejam limitadas, a maioria dos estudos não encontrou uma ligação entre o uso de desodorizantes e o desenvolvimento do cancro da mama ou qualquer outra condição de saúde.

Porém, alguns relatórios de amostras retiradas de tumores de mama referem a deteção de alumínio ou outros produtos químicos usados no fabrico de desodorizantes.

Usar desodorizante provoca cancro da mama: sim ou não?

Geralmente, os relatórios que indicam a presença de vestígios de alumínio em tumores de mama baseiam-se num número muito limitado de participantes.

Além disso, não foram efetuadas comparações entre os níveis de alumínio nos tumores com os níveis de outras partes do corpo, ou com os de mulheres sem cancro da mama.

Como os desodorizantes para as axilas são aplicados perto da mama e contêm ingredientes potencialmente nocivos, vários cientistas sugeriram uma possível ligação entre o seu uso e o cancro da mama.

No entanto, os resultados de vários estudos científicos não mostraram nenhuma relação evidente entre o uso de desodorizantes e o cancro da mama.

Um estudo sugere que o excesso de alumínio pode alterar o modo como o organismo produz ou responde ao estrogénio (hormona feminina) e que as alterações no sistema endócrino podem ser prejudiciais ao corpo, ao longo do tempo.

Outras investigações evidenciam que a pele absorve pouquíssimo alumínio quando aplicado por meio de desodorizantes ou antitranspirantes.

Por isso, são necessárias mais investigações para avaliar o alumínio como fator de risco para cancro da mama.

Contudo, recomenda-se aos consumidores que limitem a exposição ao alumínio para minimizar o impacto deste composto.

Os parabenos podem aumentar o risco de cancro da mama?

Alguns estudos sugerem que os parabenos têm um potencial cancerígeno, uma vez que têm propriedades semelhantes às do estrogénio, embora mais fracas.

Isso pode ser relevante, uma vez que algumas condições que aumentam a exposição do corpo ao estrogénio, como a obesidade ou a menopausa em idade tardia, têm sido associadas a um maior risco de cancro da mama.

No entanto, não existem provas científicas de que os parabenos aumentem o risco de cancro da mama ou outros problemas de saúde.

Além disso, a maioria dos desodorizantes e antitranspirantes não contém parabenos e existem também muitos outros compostos no ambiente que imitam o estrogénio produzido naturalmente.

Por que razão não se pode colocar desodorizante antes de uma mamografia?

A explicação é simples. Como muitos desodorizantes contêm alumínio, este metal pode aparecer nas mamografias como pequenas manchas brancas.

Por sua vez, essas manchas podem assemelhar-se a microcalcificações, que podem indicar alterações suspeitas e um possível sinal de cancro da mama.

Assim, para evitar este tipo de confusões na análise de imagens de raio-x, é desaconselhada a colocação destes produtos antes da realização de mamografias.

As pessoas com doença renal crónica devem evitar usar antitranspirantes?

Os rins ajudam a eliminar o alumínio e outros resíduos do organismo, sendo que não é possível absorver alumínio suficiente pela pele ao ponto de causar danos aos rins.

No entanto, a National Kidney Foundation dos Estados Unidos da América recomenda que as pessoas com doença renal em estádio 4 evitem produtos para a pele que contenham alumínio.

Nesse estádio, os rins funcionam apenas a 30% e não conseguem eliminar o alumínio com a rapidez necessária. Esse processo é ainda mais dificultado pelo facto de esse composto também estar presente em medicamentos renais e fluidos de diálise.

Isso pode levar a que o alumínio se acumule no organismo e desencadeie problemas de saúde ao paciente.