Música e saúde mental: qual a relação entre elas?

A relação entre música e saúde mental tem sido objeto de vários estudos científicos.

Neste artigo, vamos analisar as conclusões de alguns desses estudos e perceber se, efetivamente, a música tem efeitos positivos em doenças como o stress, a ansiedade ou a depressão.

Efeitos comprovados da música na saúde mental

Diversos estudos indicam que a música pode ter vários efeitos positivos na saúde mental.

Ouvir ou tocar música pode proporcionar uma distração mental, diminuir a tensão muscular e diminuir as hormonas responsáveis pelo stress.

Uma revisão sistemática e meta-análise publicada na NIH - National Library of Medicine concluiu que cantar, ouvir música ou adotar métodos terapêuticos como musicoterapia pode criar melhorias significativas na saúde mental, assim como melhorias, embora menores, na saúde física.

Outro estudo também publicado na NIH realça que uma das funções mais importantes da música é criar um sentimento de coesão ou união social.

Os hinos nacionais, entoados em eventos desportivos, e as canções de protesto, que evocam um forte sentido de propósito, são exemplos claros desse fenómeno.

A música também apresenta alguns potenciais benefícios interessantes na saúde mental individual, como podemos verificar a seguir.

Pode aumentar a eficácia da aprendizagem

As evidências científicas demonstram que a simples promessa de ouvir música pode fazer com que uma pessoa queira aprender mais.

Um artigo de investigação publicado no jornal científico PNAS mostra, inclusive, que as pessoas ficam mais motivadas a aprender quando esperam ouvir música como recompensa.

Na prestigiada instituição de ensino superior Johns Hopkins, dos EUA, os próprios médicos recomendam ouvir música para estimular o cérebro. Sabe-se que, perante esta ação durante um exame de ressonância magnética, há áreas cerebrais que se ativam.

Pode mitigar os sintomas de depressão

Ouvir música, especialmente clássica combinada com jazz, pode ter um efeito positivo nos sintomas de depressão, especialmente em sessões conduzidas por musicoterapeutas certificados. São as conclusões de uma revisão de estudos publicada na NIH.

Pelo contrário, segundo outro trabalho científico, ouvir músicas nostálgicas pode aumentar os sintomas de depressão, especialmente em pessoas que se isolem socialmente.

Outra investigação, cujos resultados foram apresentados no congresso da European Psychiatric Association em 2023 e publicados no Nordic Journal of Psychiatry, aponta que ouvir músicas selecionadas antes de dormir pode ser uma estratégia eficaz para o tratamento da insónia relacionada com a depressão.

De realçar que essa intervenção não teve nenhum efeito sobre a depressão em si, mas sim sobre um dos sintomas.

Pode ajudar a tratar doenças mentais

A música e saúde mental também podem estar relacionadas devido à libertação de vários neuroquímicos, que desempenham um papel na função cerebral e, por conseguinte, mental.

Entre esses neuroquímicos, encontram-se as hormonas do stress, como cortisol, e a dopamina, um químico associado aos centros de prazer e recompensa, assim como outros, como a serotonina e oxitocina.

Apesar de serem necessárias evidências científicas concretas para perceber exatamente como a música pode ser usada de forma terapêutica no tratamento de doenças mentais, alguns estudos sugerem que a musicoterapia pode melhorar a qualidade de vida e a conexão social de pessoas com esquizofrenia.

Pode ajudar a diminuir a ansiedade

Existem várias investigações que validam uma relação positiva entre música e saúde mental, nomeadamente no que diz respeito à ansiedade.

Como método terapêutico, a musicoterapia pode ajudar a diminuir a ansiedade mesmo em pessoas que enfrentam doenças graves. Uma revisão sistemática de ensaios clínicos randomizados demonstra que esses pacientes sentem-se menos ansiosos após uma sessão de musicoterapia.

Outras investigações sugerem que ouvir música misturada com sons da natureza pode ajudar as pessoas a sentirem-se menos ansiosas.

Além disso, a música pode favorecer a recuperação do sistema nervoso após um evento particularmente stressante.

Pode melhorar a memória

A música também pode ter impacto na capacidade de memorização.

Uma investigação, que monitorizou a rapidez com que as pessoas conseguiam executar tarefas simples de processamento, concluiu que quem ouviu música teve melhores resultados do que quem não ouviu.

O mesmo estudo refere, ainda, que ouvir composições de Mozart ajudou as pessoas a completar as tarefas com maior rapidez e precisão.

Apesar de a musicoterapia não conseguir reverter a perda de memória de pessoas com a doença de Alzheimer e outras formas de demência, pode atrasar o declínio cognitivo e ajudar pessoas com demência leve ou moderada a lembrarem-se de episódios das suas vidas.