O que é o lipedema e como viver com esta doença inflamatória

Estima-se que cerca de 11% das mulheres em todo o mundo sofram de lipedema, uma condição rara nos homens. Mas afinal, o que é o lipedema e porque afeta quase exclusivamente o sexo feminino?

O lipedema é muitas vezes confundido com linfedema ou obesidade, o que atrasa o diagnóstico e o tratamento adequados. Embora possa, em fases avançadas, envolver o sistema venoso e linfático, trata-se de uma condição distinta.

Caracteriza-se pelo aumento bilateral das pernas, causado por depósitos anómalos de gordura subcutânea, frequentemente acompanhados de um edema ligeiro.

Entre as pacientes com lipedema, os estudos apontam que 39% têm varizes e 53% têm telangiectasias, pequenos vasos sanguíneos dilatados e visíveis na superfície da pele.

Lipedema: como identificar pelos sintomas

O lipedema tende a afetar de forma simétrica os dois lados do corpo. Em alguns casos, os sintomas são leves; noutros, podem provocar limitações físicas significativas, com impacto também na saúde mental.

A condição faz com que a parte inferior das pernas, as coxas, as nádegas e, por vezes, os braços, fiquem com um aspeto desproporcional em relação ao resto do corpo.

Além destas alterações visíveis, podem ainda surgir outros sinais e sintomas:

• Acumulação bilateral e simétrica de gordura nas pernas, nos braços e na parte inferior do tronco;

• Surgimento de “algema” no tornozelo ou pulso, uma vez que o lipedema pode não afetar os pés e as mãos;

• Presença de textura nodular e/ou fibrótica sob a pele;

• Fadiga (começa ou piora em períodos de alterações hormonais, como puberdade, gravidez ou menopausa);

• Dor, sensibilidade e peso nas áreas afetadas;

• Edema e hipermobilidade articular;

• Facilidade em formar hematomas.

Tipos de lipedema

Com base na sua localização no corpo, esta doença inflamatória é classificada em cinco tipos diferentes:

• Tipo I: a gordura localiza-se entre o umbigo e as ancas (frequentemente, cobre a pélvis e as nádegas);

• Tipo II: a gordura localiza-se à volta da pélvis até aos joelhos;

• Tipo III: a gordura está presente na pélvis e continua até aos tornozelos (quem está neste grau pode apresentar uma camada proeminente de gordura no tornozelo);

• Tipo IV: a gordura localiza-se dos ombros até aos pulsos;

• Tipo V: a gordura localiza-se predominantemente entre os joelhos e os tornozelos (este grau é muito raro).

Algumas pessoas têm uma combinação de tipos, geralmente tipo II e IV ou tipo III e IV.

O que é lipedema no 4.º estádio?

Dependendo do seu desenvolvimento, o lipedema também é classificado em 4 estádios de evolução, especificamente:

• Estádio 1: a pele parece normal e macia ao toque, embora haja nódulos de gordura aumentados sob a pele. Pode criar hematomas facilmente e sentir alguma dor;

• Estádio 2: a superfície da pele torna-se irregular e pode apresentar marcas, padrões e covinhas. A quantidade de gordura também aumenta no 2.º estádio em comparação com o 1.º;

• Estádio 3: pode desenvolver grandes extensões de pele e gordura, que podem pressionar as articulações e afetar a mobilidade e equilíbrio. O 3.º estádio pode causar perda de elasticidade, causando a redução do fluxo sanguíneo e da linfa para fora do tecido adiposo, causando o seu crescimento;

• Estádio 4: o estádio final é quando o lipedema e o linfedema estão presentes no corpo. O linfedema, caracterizado pela acumulação de líquidos nos tecidos devido aos danos no sistema linfático, desenvolve-se quando o lipedema causa a acumulação de células de gordura, interferindo no sistema linfático.

Causas do aparecimento do lipedema

A causa exata do lipedema é desconhecida. Pode ser hereditária, já que ocorre em 20% a 60% dos casos.

Como afeta quase exclusivamente mulheres, pode estar relacionado com as hormonas, já que geralmente começa ou piora durante:

• Puberdade;

• Gravidez;

• Menopausa;

• Período de utilização de pílula anticoncecional.

Ter obesidade não causa lipedema, mas mais de metade das pessoas com essa condição tem um IMC (Índice de Massa Corporal) maior que 35.

É importante realçar que o lipedema é diferente da obesidade, uma vez que a gordura relacionada com esta última condição é diferente da gordura relacionada com o lipedema.

Geralmente, indivíduos com lipedema em estádio inicial não têm diabetes, colesterol ou hipertensão, condições habitualmente associadas à obesidade.

Complicações que o lipedema pode causar

Se não for tratado ou acompanhado clinicamente, o lipedema pode levar a:

• Pés chatos;

• Joelho valgo;

• Doença venosa;

• Dificuldades em caminhar;

• Problemas nas articulações;

• Linfedema secundário ou lipo-linfedema;

• Depressão.

Tratamento

Embora não exista cura para o lipedema, o tratamento inclui correção alimentar, exercício físico direcionado, correção dos hábitos de vida e intervenções medicamentosas e cirúrgicas.

Geralmente, esta abordagem multidisciplinar é eficaz e permite a melhoria de 35% dos sintomas com o tratamento clínico e de 58% com recurso ao tratamento cirúrgico.

Como tratar e aliviar o lipedema

Alguns dos principais objetivos do tratamento podem incluir:

• Dar prioridade à saúde mental e emocional;

• Diminuir o tecido adiposo;

• Melhorar o fluxo linfático;

• Promover a saúde geral;

• Aumentar a mobilidade;

• Controlar a inflamação;

• Minimizar a fadiga;

• Reduzir a fibrose;

• Controlar a dor.

Para isso, existem várias formas de controlar e aliviar os sintomas do lipedema:

• Drenagem linfática manual: pode ajudar a drenar o fluido linfático de áreas bloqueadas para os vasos saudáveis do corpo, ajudando a reduzir o risco de cicatrizes e a aumentar o fluxo sanguíneo para a área. Isto pode ajudar a reduzir a dor;

• Terapia de compressão: pode reduzir as possibilidades de acumular mais líquido nos membros;

• Lipoaspiração: é um tratamento eficaz para lipedema quando outras opções de tratamento não resultam. Envolve a remoção da gordura do lipedema, poupando os vasos linfáticos.

Embora a lipoaspiração possa ser uma opção útil para algumas pessoas, ajudando a reduzir a dor e a melhorar a mobilidade, a decisão de avançar para este tipo de cirurgia deve ser ponderada com cuidado e sempre discutida com o médico ou especialista.

Existe algum medicamento para lipedema?

Embora o lipedema seja uma condição crónica, atualmente não existe medicação específica para o seu tratamento.

Ainda assim, alguns medicamentos e suplementos podem ser utilizados como apoio, ajudando a aliviar sintomas como o inchaço e a inflamação.

Prognóstico

O lipedema manifesta-se de forma diferente em cada pessoa: em alguns casos, progride rapidamente; noutros, a evolução é mais lenta ou mantém-se com sintomas leves, que permitem uma boa adaptação ao dia a dia.

Uma das consequências mais marcantes desta condição é a redução da qualidade de vida. O diagnóstico incorreto é frequente e, quando a doença não é reconhecida nem tratada, pode ter um impacto significativo na saúde mental dos pacientes.

Por outro lado, com um diagnóstico precoce e o tratamento adequado, é possível controlar o lipedema e travar a sua progressão para estádios mais graves.