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como trabalhar a raiva com crianças

Como trabalhar a raiva com crianças: 10 estratégias

8 mins. leitura

Índice

  1. 1. Porque é que as crianças sentem raiva?
  2. 2. Como trabalhar a raiva com crianças?
  3. 3. 10 estratégias práticas para trabalhar a raiva com crianças
  4. 4. Benefícios de ensinar as crianças a lidar com as emoções para o futuro
  5. 5. Quando procurar ajuda especializada

A raiva é uma emoção natural, que também faz parte do crescimento das crianças. É importante saber como trabalhar a raiva com crianças, não porque é errado sentir-se zangado, mas pela forma como essa emoção é expressa.

Quando uma criança não sabe identificar ou verbalizar o que sente, é comum reagir com gritos, birras ou até agressividade. Ajudar os mais novos a lidar com estas emoções passa por ensiná-los a reconhecer o que sentem, proporcionar um espaço seguro para se expressarem e orientá-los com empatia, firmeza e consistência emocional.

Este processo não só fortalece a ligação afetiva entre adultos e crianças, como também desenvolve a inteligência emocional dos mais pequenos, uma ferramenta essencial para a autoestima, relacionamentos e resolução de conflitos ao longo da vida.

Neste artigo mostramos estratégias práticas para desenvolver a autorregulação emocional e transformar momentos de raiva em aprendizagens positivas.

Porque é que as crianças sentem raiva?

Sentir raiva faz parte do desenvolvimento emocional. Tal como os adultos, também as crianças experienciam emoções como frustração, medo, ansiedade ou tristeza, mas nem sempre sabem expressar o que sentem.

A raiva pode surgir, por exemplo, quando uma criança não consegue aquilo que deseja ou é desafiada a fazer algo que não quer. Nestes momentos, gritar, bater ou fazer uma birra pode ser a forma que encontra para reagir.

Além dos momentos do dia a dia, há outros fatores que podem tornar uma criança mais propensa à irritabilidade ou à agressividade.

A genética, o temperamento e outras condições de saúde mental, como perturbação de hiperatividade com défice de atenção (PHDA), autismo, perturbação obsessivo-compulsiva ou síndrome de Tourette, podem contribuir para estas dificuldades.

Também o ambiente no qual a criança cresce tem um papel importante. Traumas, conflitos familiares frequentes ou estilos parentais muito punitivos e incoerentes aumentam o risco de comportamentos impulsivos ou agressivos.

Há ainda causas mais discretas, mas igualmente significativas, como:

  • Problemas com os amigos;

  • Ser vítima de bullying;

  • Dificuldades na escola, seja com os trabalhos ou com os testes;

  • Lidar com stress, medo ou ansiedade;

  • Enfrentar as mudanças da puberdade.

Por vezes, nem a própria criança consegue identificar o que está na origem da sua raiva. Nestes casos, é fundamental que os adultos a ajudem a explorar e compreender o que está na origem desse comportamento.

emoções negativas nas crianças

Como trabalhar a raiva com crianças?

A raiva é uma emoção natural e inevitável em qualquer ser humano, incluindo nas crianças. No entanto, quando não é compreendida ou acompanhada com empatia, pode dar origem a comportamentos difíceis de gerir, tanto para os adultos como para os mais novos.

Como reconhecer os sinais de raiva nas crianças?

A raiva nas crianças nem sempre é fácil de identificar. Muitas vezes, não se manifesta apenas através de gritos ou birras. As crianças tendem a expressar o que sentem através de ações, linguagem e, sobretudo, nas brincadeiras.

Observar a forma como brincam pode ser uma das chaves para perceber como se estão realmente a sentir. Por exemplo, crianças stressadas ou irritadas podem encenar lutas entre bonecos ou criar histórias marcadas por agressividade.

É importante lembrar que as emoções das crianças são tão reais quanto as dos adultos, mas frequentemente mais intensas e desreguladas. Muitas ainda não têm ferramentas para lidar com o que sentem, pois nem sequer sabem dar nome ao que estão a sentir.

A zanga pode surgir por motivos que, à luz dos adultos, parecem “sem importância”, como a textura de uma t-shirt, uma sanduíche mal cortada ou um som de fundo. Estas reações não devem ser desvalorizadas, pois resultam de uma perceção sensorial e emocional diferente da dos adultos.

Também é comum que a raiva se manifeste em momentos mais exigentes, como quando é preciso sair de casa, na hora de dormir ou em ocasiões especiais. Quando os adultos estão apressados ou stressados, as crianças podem sentir essa tensão e reagir com maior intensidade.

Como podem os adultos ajudar?

A forma como os adultos lidam com as emoções das crianças tem um impacto direto na forma como estas aprendem a lidar com elas. É aqui que entra a co-regulação, um processo em que o adulto ajuda a criança a acalmar-se, a dar nome ao que sente e a encontrar alternativas ao comportamento impulsivo.

Este apoio é especialmente importante nas primeiras fases da vida, quando o cérebro da criança ainda está a amadurecer. O córtex pré-frontal, responsável pela autorregulação, é imaturo nas crianças, o que significa que precisam do adulto como referência para organizar o que sentem. É como se os pais ou cuidadores fossem os “guias emocionais” até que a criança consiga, gradualmente, assumir esse controlo.

Por isso, é essencial que os adultos também saibam gerir as suas próprias emoções. Manter a calma e responder com empatia ajuda a criança a sentir-se segura e compreendida, o que é meio caminho andado para se acalmar. A forma como reagimos à raiva de uma criança pode moldar a forma como ela vai lidar com emoções difíceis no futuro.

Não se trata de eliminar a frustração ou evitar que as crianças fiquem tristes ou zangadas. Pelo contrário, é através dessas experiências que se desenvolvem competências fundamentais como resiliência, empatia e tolerância à frustração.

O que pode dificultar este processo?

Algumas respostas, apesar de bem-intencionadas, podem dificultar o desenvolvimento emocional saudável das crianças. Eis o que convém evitar:

  • Inconsistência nas consequências: se uma criança for repreendida por agir de forma agressiva apenas em algumas ocasiões, pode não perceber a ligação entre o comportamento e as consequências. A consistência é essencial para que aprenda limites e segurança emocional;

  • Punições severas ou humilhações: castigos exagerados, gritos ou palavras duras não ajudam a criança a autorregular-se e podem, pelo contrário, alimentar sentimentos de medo, vergonha ou revolta. Estes métodos prejudicam a saúde emocional e podem comprometer a relação com os adultos;

  • Desvalorizar os sentimentos da criança: frases como “isso não é motivo para ficares assim” ou “estás a fazer uma fita” não ajudam a criança a compreender o que sente. Validar as emoções, mesmo quando não concordamos com o comportamento, é o primeiro passo para ensinar autorregulação.

estratégias para lidar com raiva nas crianças

10 estratégias práticas para trabalhar a raiva com crianças

Ajudar as crianças a lidar com a raiva começa por ensiná-las a reconhecer o que estão a sentir. Identificar os primeiros sinais, como o coração a bater mais depressa, os punhos cerrados ou o estômago às voltas, é o primeiro passo para desenvolver a autorregulação emocional.

Reconhecer os sinais físicos da raiva

Ensinar a criança a notar quando o corpo começa a reagir (respiração acelerada, cara quente, etc.), ajuda-a a antecipar e a gerir melhor a emoção.

Explorar os gatilhos e praticar respostas que acalmam

Conversar sobre o que costuma causar esses sentimentos e treinar, em conjunto, formas mais calmas de reagir: contar até 10, respirar fundo, afastar-se ou procurar um espaço tranquilo.

Reforçar positivamente as pequenas vitórias

Elogiar sempre que a criança conseguir aplicar uma estratégia de autorregulação reforça a aprendizagem e aumenta a sua autoestima emocional.

Praticar a respiração abdominal (diafragmática)

Ensinar a técnica da respiração profunda, com uma mão na barriga e outra no peito, para ajudar a acalmar o corpo e a mente de forma eficaz.

Ao inspirar, a mão sobre a barriga deve mover-se mais do que a do peito. Esta técnica ajuda a reduzir rapidamente a intensidade das emoções.

Canalizar a energia através do movimento

Incentivar atividades físicas como caminhar, correr ou andar de bicicleta para libertar tensão e promover o bem-estar emocional.

Usar a criatividade para expressar emoções

Propor atividades como desenhar sentimentos, pintar ou usar um “termómetro emocional”, são estratégias especialmente eficazes com crianças mais novas.

Aplicar estratégias sensoriais para o autocontrolo

Incluir no dia a dia objetos como brinquedos fidget, aromas suaves, elementos com peso ou abraços apertados (com consentimento), ajustando o “kit de autocuidado” à criança.

Recorrer a técnicas de grounding para momentos de ansiedade

Utilizar a técnica 5-4-3-2-1 para recentrar a atenção no presente, identificando cinco coisas que vê, quatro que toca, três que ouve, duas que cheira e uma que saboreia.

Criar momentos de prazer e descontração

Estimular atividades prazerosas como ouvir música, dançar, cantar ou brincar livremente para ajudar a recuperar o equilíbrio emocional.

Mostrar empatia e validar emoções

Validar o que a criança sente, mesmo quando o comportamento não é adequado, ensina que todas as emoções são válidas e podem ser expressas de forma segura.

Benefícios de ensinar as crianças a lidar com as emoções para o futuro

Aprender a lidar com emoções como frustração, tristeza ou raiva é essencial para um desenvolvimento saudável. Embora, à primeira vista, possam parecer desconfortáveis, essas emoções fazem parte da vida.

Sentir frustração quando algo não corre como se queria é natural e necessário. Ajuda a criança a enfrentar desafios, a dar significado às experiências e a preparar-se para um mundo onde os pais nem sempre estarão presentes.

Quando a criança é incentivada a resolver os próprios conflitos ou a aceitar perder num jogo, está a desenvolver resiliência, empatia e autonomia emocional, competências fundamentais para o futuro.

Quando procurar ajuda especializada

É natural que as crianças, sobretudo em idade pré-escolar, tenham explosões de raiva ocasionais. No entanto, quando estes episódios se tornam frequentes, intensos e começam a afetar negativamente o bem-estar da criança ou das pessoas à sua volta, pode ser sinal de que é necessário procurar apoio especializado.

Alguns sinais de alerta a ter em conta incluem:

  • Comportamentos agressivos, verbais ou físicos;

  • Dificuldade em seguir regras ou instruções;

  • Conflitos constantes com colegas ou adultos;

  • Reações muito intensas à frustração.

Se estes comportamentos persistirem ao longo de várias semanas e ocorrerem em diferentes contextos, tanto em casa como na escola, por exemplo, é importante agir.

Pode tratar-se de uma resposta a um fator de stress, como um divórcio, mudanças familiares ou a perda de um ente querido. Nestes casos, compreender o contexto é essencial para uma avaliação adequada.

Falar com professores e observar a forma como a criança interage com os outros pode ajudar a perceber se há um padrão preocupante. Sempre que necessário, deve considerar-se o apoio de psicólogos ou profissionais de saúde mental infantil.

Em alguns casos, pode existir um diagnóstico associado, como:

  • Perturbação de Oposição Desafiante (TOD);

  • Perturbação de Conduta (TC);

  • Perturbação de Desregulação Disruptiva do Humor (DMDD).

Estes quadros clínicos envolvem dificuldades significativas na gestão da raiva e requerem avaliação por especialistas.

Se está preocupado com o comportamento do seu filho, pode começar por falar com o pediatra. Sempre que necessário, o médico pode encaminhar a criança para serviços de saúde mental infantojuvenil.

Além disso, programas de formação para pais podem ser um recurso muito útil, pois ajudam a compreender melhor o comportamento da criança, reforçar as competências socioemocionais, melhorar a comunicação familiar e definir regras claras e consistentes.

Pedir ajuda não é sinal de fracasso, mas sim um passo importante para garantir o bem-estar emocional da criança e da família como um todo.

Aviso: O Blog Mais Saúde é um espaço meramente informativo. A Medicare recomenda sempre a consulta de um profissional de saúde para diagnóstico ou tratamento, não devendo nunca este Blog ser considerado substituto de diagnóstico médico.

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