O que é testosterona e qual a sua função

A maioria das pessoas, quando questionadas sobre o que é testosterona, pensa em homens, agressividade e atividade sexual. No entanto, esta associação é, em grande parte, um mito. Sabia que é um fator chave no cancro da próstata ou que as mulheres também precisam de testosterona?

Esta hormona sexual é produzida pelos testículos e pelos ovários, embora nos homens os níveis sejam naturalmente mais elevados. Se os níveis de testosterona estiverem demasiado altos ou demasiado baixos, podem afetar tanto a saúde física como mental.

Explicamos tudo o que precisa de saber, desde funções, sintomas de desequilíbrio, como medir e formas de regular.

O que é testosterona?

A testosterona é uma hormona esteroide do grupo dos androgénios, produzida sobretudo nos testículos nos homens e nos ovários nas mulheres. Em menores quantidades, também é produzida pelas glândulas suprarrenais.

Esta hormona é essencial no desenvolvimento das caraterísticas sexuais secundárias masculinas, como voz grave, crescimento de pelos no corpo e aumento da massa muscular.

Embora seja conhecida principalmente pela sua função nos homens, a testosterona também está presente no organismo das mulheres e desempenha papéis importantes na saúde óssea, muscular e sexual feminina.

Qual é a função da testosterona nos homens?

Nos homens, a testosterona é uma hormona essencial desde o desenvolvimento embrionário até à idade adulta. Desempenha funções determinantes na formação dos órgãos sexuais, no aparecimento das caraterísticas masculinas e na manutenção da saúde física, sexual e emocional.

Desenvolvimento fetal

Por volta da sétima semana de gestação, o cromossoma Y ativa a formação dos testículos, que começam a produzir testosterona. Esta hormona promove o desenvolvimento dos órgãos genitais internos e externos masculinos e estimula a descida dos testículos para o escroto. Se essa descida não ocorrer até aos primeiros meses após o nascimento, pode ser considerada a administração de testosterona.

Puberdade

Durante a puberdade, a testosterona aumenta significativamente e é responsável pelas mudanças físicas e comportamentais caraterísticas desta fase. Os principais efeitos incluem: 

• Crescimento dos órgãos genitais (pénis, testículos e próstata);

• Aumento da altura e do crescimento ósseo;

• Alteração da voz (mais grave);

• Crescimento de pelos faciais, púbicos e corporais;

• Aumento da massa muscular e da força física;

• Estímulo da libido (desejo sexual);

• Início da produção de esperma (espermatogénese).

Também influencia o humor e a energia, sendo essencial para a regulação emocional nesta fase.

Idade adulta

Na vida adulta, a testosterona continua a ser vital para:

• Manutenção da densidade óssea e da massa muscular;

• Regulação da distribuição de gordura corporal;

• Produção contínua de esperma;

• Estímulo da libido e do bem-estar geral;

• Produção de glóbulos vermelhos (eritropoiese), contribuindo para níveis de hematócrito mais elevados;

• Estabilidade do humor e da função cognitiva.

Existe uma curva de declínio anual: depois dos 30 anos, a testosterona baixa cerca de 1% por ano.

Caraterísticas sexuais primárias e secundárias

A testosterona é uma hormona fundamental no desenvolvimento masculino, atuando tanto nas caraterísticas sexuais primárias como nas secundárias:

• Caraterísticas sexuais primárias dizem respeito às estruturas diretamente envolvidas na reprodução. Incluem as gónadas (testículos), responsáveis pela produção de espermatozóides (espermatogénese) e de testosterona, bem como os órgãos genitais externos e internos (pénis, epidídimo, canais deferentes e glândulas associadas). Estão presentes desde o nascimento, mas só atingem a maturidade funcional na puberdade, sob a ação da testosterona;

• Caraterísticas sexuais secundárias são traços físicos e fisiológicos que não participam diretamente na reprodução, mas estão associados à masculinidade e surgem ou intensificam-se durante a puberdade, como:

  • Crescimento de pelos faciais e corporais;

  • Padrões de calvície masculina;

  • Voz mais grave (engrossamento das cordas vocais);

  • Aumento da massa muscular e da densidade óssea;

  • Picos de crescimento na adolescência, seguidos pelo encerramento das placas de crescimento.

Além destas funções, a testosterona contribui para a manutenção da fertilidade, da vitalidade física e do equilíbrio emocional ao longo da vida.

As mulheres também têm testosterona?

Sim, embora em quantidades muito menores, as mulheres também produzem testosterona. Esta hormona é fundamental para várias funções no organismo feminino, como:

• Manutenção da densidade óssea e da massa muscular;

• Regulação da libido e da função sexual;

• Suporte à função dos ovários e equilíbrio hormonal;

• Contributo para o humor, energia e função cognitiva.

Grande parte da testosterona nas mulheres é convertida em estrogénios, nomeadamente estradiol, a principal hormona sexual feminina.

Quando os níveis estão desequilibrados, especialmente em excesso, podem surgir sintomas como acne, aumento de pelos faciais e corporais, voz mais grave, alterações menstruais ou infertilidade.

Como medir a testosterona?

Os níveis de testosterona podem ser avaliados através de uma análise ao sangue, normalmente feita de manhã, quando os valores são mais altos.

A produção de testosterona começa a aumentar significativamente durante a puberdade e começa a cair depois dos 30 anos. Pode consultar a tabela de níveis de testosterona por idade para verificar se os seus valores estão dentro do esperado.

Valores médios de testosterona total nos homens:

Estes valores podem variar consoante o laboratório, a saúde geral e o uso de medicamentos.

Nas mulheres, os níveis normais variam entre 15 e 70 ng/dL (nanogramas por decilitro), dependendo da idade e da fase do ciclo menstrual. Valores persistentemente acima ou abaixo deste intervalo podem estar associados a condições como síndrome do ovário poliquístico (SOP), sendo importante discutir os resultados com um médico.

Quais são os sintomas de testosterona baixa?

A testosterona baixa, ou hipogonadismo, pode afetar homens de qualquer idade, embora seja mais comum com o envelhecimento. Os sintomas variam consoante a fase da vida, mas incluem alterações físicas, sexuais, emocionais e cognitivas.

O hipogonadismo pode ser classificado em:

• Primário (hipergonadotrófico): resulta de um mau funcionamento das gónadas (testículos), levando a uma produção insuficiente de testosterona;

• Secundário (hipogonadotrófico): decorre de alterações no hipotálamo ou na hipófise, causando uma produção inadequada de LH e FSH e, consequentemente, uma estimulação insuficiente dos testículos.

O diagnóstico laboratorial considera, de forma geral, testosterona total inferior a 300 ng/dL, confirmada em duas colheitas de sangue realizadas de manhã, idealmente em dias diferentes, associada a sintomas compatíveis.

Sintomas em adultos

Nos homens adultos, os sinais mais comuns de testosterona baixa são:

• Baixo desejo sexual (libido);

• Fadiga persistente e menos energia;

• Disfunção erétil;

• Diminuição da massa muscular e aumento da gordura corporal;

• Redução de pelos faciais e corporais;

• Alterações de humor, como irritabilidade, depressão e falta de concentração;

• Fragilidade óssea e maior risco de osteoporose;

• Infertilidade (redução da contagem e qualidade do esperma);

• Aumento do tamanho das mamas (ginecomastia).

Além do envelhecimento natural, podem existir outras causas, como:

• Lesões nos testículos;

• Doenças da hipófise ou hipotálamo;

• Uso de certos medicamentos (como opióides ou esteroides);

• Doenças crónicas (diabetes tipo 2, obesidade, insuficiência renal ou hepática, HIV/SIDA);

• Condições genéticas, como síndrome de Klinefelter ou síndrome de Kallmann.

Em adolescentes

Nos rapazes, a deficiência de testosterona pode comprometer a puberdade, resultando em:

• Crescimento lento ou desproporcional;

• Pénis e testículos pouco desenvolvidos;

• Voz que não se altera;

• Pouco crescimento de pelos corporais;

• Força física reduzida.

Em mulheres

As mulheres também podem sofrer com níveis baixos de testosterona. Os principais sintomas são:

• Baixa libido;

• Diminuição da densidade óssea;

• Cansaço frequente;

• Depressão e falta de concentração.

É possível ter testosterona alta? Quais são as consequências?

Sim. A testosterona alta no homem pode resultar da utilização de esteroides anabolizantes, de tumores nos testículos ou de perturbações hormonais. Os sinais de excesso incluem:

• Agressividade e impulsividade;

• Acne severa;

• Aumento do risco de coágulos sanguíneos;

• Apneia do sono;

• Infertilidade, devido à inibição da produção de esperma;

• Crescimento anormal da próstata.

Níveis elevados de testosterona em bebés do sexo feminino podem causar um aumento do clitóris, que pode assemelhar-se a um pénis. Esta alteração hormonal também pode desencadear puberdade precoce, ou seja, o início das transformações da puberdade antes dos oito anos de idade.

Nas mulheres, o excesso de testosterona está frequentemente associado a síndromes como o ovário poliquístico (SOP), que pode causar sintomas como acne, hirsutismo, menstruação irregular, calvície na parte frontal da linha do cabelo e voz mais grave.

Tenho testosterona baixa. Como posso aumentar?

Existem algumas formas de aumentar a testosterona, nomeadamente através de mudanças no estilo de vida:

• Dormir entre 7 a 9 horas por noite;

• Praticar exercício físico regular, especialmente treino de força;

• Reduzir o stress e melhorar a saúde mental;

• Manter um peso saudável;

• Ingerir alimentos ricos em zinco, vitamina D, magnésio e gorduras saudáveis.

Exemplos de alimentos que podem ajudar:

• Ovos;

• Atum, salmão e sardinha;

• Espinafres e outros vegetais de folha verde;

• Frutos secos e sementes.

É seguro tomar suplementação de testosterona?

A terapia de reposição de testosterona pode ser indicada em casos de hipogonadismo diagnosticado. No entanto, a utilização de suplemento de testosterona sem prescrição médica é desaconselhado e pode ser perigoso.

Riscos da reposição de testosterona sem acompanhamento médico:

• Supressão da produção natural da hormona;

• Infertilidade;

• Aumento do risco cardiovascular;

• Agravamento de doenças da próstata;

• Apneia do sono.

A reposição de testosterona pode ser administrada através de injeções, géis, adesivos ou comprimidos, sempre sob orientação de um profissional de saúde.

Considerações finais

Perceber o que é testosterona e qual a sua função é essencial para a saúde de homens e mulheres. Esta hormona influencia desde o bem-estar físico até ao equilíbrio emocional e à saúde sexual.

Desequilíbrios, sejam por défice ou por excesso, requerem atenção médica. A boa notícia é que muitos casos podem ser resolvidos com mudanças de hábitos ou tratamentos específicos.

Se tem dúvidas sobre os seus níveis de testosterona, procure o seu médico e peça uma avaliação. O acompanhamento clínico é fundamental para garantir um diagnóstico correto, um tratamento personalizado e uma análise cuidada da relação risco–benefício de qualquer intervenção.

Não tome suplementos sem aconselhamento e invista numa vida equilibrada, com sono de qualidade, boa alimentação e exercício físico regular.