Síndrome do ovário poliquístico: a maior causa de infertilidade feminina
• 4 mins. leitura
Índice
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a síndrome do ovário poliquístico (SOP) afeta cerca de 6 a 13% das mulheres em idade reprodutiva. Apesar de ser a maior causa de infertilidade feminina, quase 70% das mulheres afetadas permanecem sem diagnóstico a nível mundial.
Saiba o que é, quais as causas, sintomas e possíveis tratamentos.
O que é a síndrome do ovário poliquístico
A SOP é uma condição que envolve várias alterações hormonais e metabólicas, não se define apenas pela presença de quistos nos ovários.
Os ovários de quem tem SOP apresentam muitos folículos pequenos inofensivos, onde os óvulos se desenvolvem. A síndrome faz com que esses folículos não consigam libertar um óvulo, o que significa que a ovulação não ocorre.
Além dos sintomas ginecológicos, a SOP está associada a um maior risco de desenvolver outras doenças, como diabetes tipo 2, problemas cardiovasculares e cancro do endométrio em idade precoce.
Causas do ovário poliquístico
A causa exata da síndrome de ovário poliquístico é desconhecida.
No entanto, há fatores de risco que podem influenciar a condição, nomeadamente:
Predisposição genética e hormonal: alguns estudos sugerem que muitos genes podem contribuir para o desenvolvimento da condição, sendo que a história familiar positiva sugere herança poligénica. Alterações na secreção de GnRH e LH elevam a relação LH/FSH, estimulando a teca ovariana a produzir mais andrógenos;
Excesso de andrógeno, que também pode resultar em acne e hirsutismo (excesso de pelo);
Fatores ambientais, como alimentação ou medicação;
Inflamação de baixo grau, porque o excesso de inflamação pode estar associado a níveis mais altos de andrógenos, segundo sugerem algumas investigações. O excesso de peso também pode contribuir para a inflamação;
Resistência à insulina e fatores metabólicos: hiperinsulinemia, comum em 60 a 70% dos casos, intensifica a síntese de andrógenos nos ovários e reduz a síntese hepática de SHBG, elevando os andrógenos livres.
Além disso, a própria SOP é um fator de risco para o cancro do ovário.
Possíveis complicações associadas
A obesidade é comum na síndrome do ovário poliquístico e pode agravar as complicações da doença.
Além disso, as complicações da SOP também podem incluir:
Diabetes tipo 2 ou pré-diabetes;
Aborto espontâneo ou parto prematuro;
Diabetes gestacional ou tensão arterial elevada induzida pela gravidez;
Síndrome metabólica, um conjunto de condições que incluem tensão arterial elevada, alto teor de açúcar no sangue e níveis elevados de colesterol ou triglicéridos, que aumentam significativamente o risco de doenças cardiovasculares;
Cancro do endométrio (revestimento uterino);
Esteatose hepática não alcoólica (EHNA).
Sintomas da SOP
Os sintomas da síndrome do ovário poliquístico (SOP) variam de mulher para mulher. Em alguns casos, podem ser tão leves que passam despercebidos.
O sinal mais comum é a alteração do ciclo menstrual, que pode ser irregular, ausente, pouco frequente ou muito longo. Outros sintomas possíveis incluem:
Acne e pele oleosa (devido ao excesso de androgénios);
Excesso de pelos em áreas como rosto, peito, barriga, braços ou dedos (hirsutismo);
Obesidade ou dificuldade em manter o peso;
Escurecimento e espessamento da pele em zonas como as axilas.
Na ecografia, é comum o ovário estar aumentado ou com vários quistos pequenos.
Tratamento da síndrome
Não existe cura para a síndrome do ovário poliquístico, mas os tratamentos ajudam a controlar os sintomas. Podem incluir medicamentos, mudanças no estilo de vida ou ambos.
O tratamento é ajustado a cada caso, consoante os sintomas – como acne, excesso de pelos, obesidade, resistência à insulina ou alterações menstruais – e o desejo de engravidar.
Contracetivos orais ajudam a regular o ciclo menstrual e a reduzir sintomas como acne ou crescimento de pelos;
Medicamentos específicos podem ser usados para melhorar a acne, a resistência à insulina ou a ovulação;
Tratamentos para infertilidade incluem mudanças no estilo de vida (como perda de peso), medicação para estimular a ovulação ou, em casos mais complexos, cirurgia;
Fertilização in vitro (FIV) pode ser uma alternativa quando a medicação não funciona, embora tenha alguns riscos.
É possível engravidar naturalmente?
A síndrome do ovário poliquístico pode dificultar a gravidez natural, mas não a torna impossível. A condição afeta o ciclo menstrual e a ovulação, o que explica porque 70% a 80% das mulheres com SOP têm dificuldades reprodutivas.
Ainda assim, há boas perspetivas: até 50% das mulheres conseguem engravidar espontaneamente após mudanças no estilo de vida, como a perda de peso e a adoção de hábitos mais saudáveis.
Alimentos para ajudar na síndrome de ovário poliquístico
O tratamento da SOP muitas vezes começa com mudanças no estilo de vida, como a perda de peso, a prática regular de exercício físico e uma alimentação equilibrada. Estudos mostram que perder apenas 5% a 10% do peso corporal pode ajudar a regular o ciclo menstrual e melhorar os sintomas. Além disso, contribui para:
Reduzir a resistência à insulina;
Melhorar o colesterol;
Diminuir o risco de doenças cardíacas e diabetes.
O médico pode recomendar uma dieta com baixo teor de açúcares e hidratos de carbono simples, para ajudar tanto na perda de peso como no controlo da insulina.
Uma revisão publicada na Oxford Academic indica que uma alimentação que evita picos de glicemia - rica em frutas, vegetais e cereais integrais - pode regular melhor o ciclo menstrual do que uma dieta de perda de peso convencional.
Alimentos recomendados:
Carnes magras e aves, como frango e peru;
Peixes ricos em ácidos gordos saudáveis;
Cereais integrais e leguminosas;
Frutas e vegetais variados.
Dica: fazer refeições regulares ajuda a manter os níveis de insulina estáveis ao longo do dia.
Prognóstico
Com um tratamento adequado, os sintomas da síndrome do ovário poliquístico podem melhorar significativamente ou mesmo desaparecer. Um diagnóstico precoce é essencial para que as mulheres com SOP possam levar uma vida normal, desde que mantenham o acompanhamento médico e sigam as recomendações de tratamento.
Além de controlar os sintomas, os tratamentos ajudam a prevenir complicações a longo prazo, como diabetes tipo 2 ou problemas cardiovasculares, e a aumentar as probabilidades de uma gravidez bem sucedida.